O PEDESTRE ATURDIDO –

 Em plena avenida Salgado Filho, na lombada eletrônica de quem chega a Natal, existe uma faixa para pedestres. E havia um pedestre. Disciplinado, parei. Ao meu lado emparelharam uma enorme carreta e um ônibus. Mais uma longa fila tripla. Um único pedestre.

Ele olhava os carros e voltava-se para o sinal. O semáforo, controlador da velocidade, não significava que estava aberto para ele. Tinha o ímpeto de ir. Não ia. Simulava uma retirada que não se concretizava. Olhou para trás e estava só. Ninguém buzinou. Girou em torno do próprio eixo. Trezentos e sessenta graus, a situação era a mesma.

Encheu o peito e iniciou a marcha heróica. Rodava a cabeça para um lado e para o outro como se não acreditasse no que estava acontecendo. Acelerou o passo e chegou do outro lado, incólume. Respirou aliviado. Mas a máscara de preocupação estava estampada no seu rosto suado. Ele não havia entendido o que acontecera.

Finalmente, como pedestre, o seu direito de atravessar na faixa foi respeitado, em movimentadíssima avenida. Em alguns lugares, ser gentil pode custar muito caro. Tenha todo o cuidado antes de oferecer passagem a um pedestre. O maluco do lado pode atropelá-lo e o de trás bater em você. O maior perigo é aparecer uma moto entre um carro e outro. Os motoqueiros não respeitam nada nem ninguém. Não respeitam sequer eles próprios. As estatísticas estão aí mostrando a quantidade de acidentes com óbito. Felizmente a coisa está mudando e está na hora também do pedestre se educar, saber dos seus direitos e deveres e aprender a atravessar nos locais reservados para ele.

Conheço muita gente que morou fora e só pára em cima da faixa. Outro dia um dobrou em cruzamento proibido e ainda deu uma solene buzinada no ordeiro pedestre.

Infelizmente existem motoristas que pensam que jamais serão pedestres, ou aqueles que são otimistas ao ponto de pensarem que nunca encontrarão motoristas iguais a eles.

Enquanto motorista, seja pedestre. Enquanto pedestre, seja motorista. Viveremos melhor, desde que o articulista retire o enquanto e coloque quando

 

 

Armando Negreiros – Médico e Escritor
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