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Violante Pimentel

Um fidalgo costumava convidar o seu presbítero para o costumeiro almoço dominical em sua residência. Certo dia, precisou viajar ao exterior e, já bem distante de casa, lembrou-se de mandar uma recomendação à sua linda mulher, através do seu fiel escudeiro. Mandou dizer à esposa que, em hipótese alguma, convidasse, na sua ausência, o presbítero para almoçar na sua casa. Não o deixasse entrar em casa, sob nenhum pretexto, nem pusesse os pés na residência dele. Que também não mantivesse com ele, qualquer conversa.

O empregado prometeu ao amo transmitir o recado à sua esposa, mas o transmitiu completamente diferente. Sabia que certas mulheres não aceitam ordens e procuram fazer exatamente o contrário das ordens que lhe são impostas  pelos maridos dominadores. Muito astucioso, o empregado deu um recado bem diferente à mulher do seu amo. Ao vê-lo, a mulher, com lágrimas nos olhos pela ausência do marido, perguntou:

-Por que voltaste tão depressa, Sávio?

-Voltei para dar um recado à senhora. Meu amo mandou lhe recomendar que, durante a ausência dele, não brinque com Zorro, o enorme Cão de fila, de grande porte, acostumado às rédeas. Pede que não o monteis, pois teme que o Molosso a agrida.

A mulher estranhou essa ordem.  Nunca havia se aproximado do Molosso, nunca o acariciara e, muito menos, nunca tivera vontade de montá-lo. Uma recomendação desnecessária!!!

A mulher mandou dizer ao marido que ficasse tranquilo, pois suas ordens seriam cumpridas.

Mal o empregado pegou a estrada, a mulher teve a curiosidade de se  aproximar de Zorro, , o Molosso, e resolveu jogar alguns pedaços de bolo a todos os cachorros. Admirou-se com a alegria deles, quando abanaram a cauda, em sinal de agradecimento.  Repetiu a operação, até deixar os animais saciados. Notou que não havia agressividade por parte deles. Pelo contrário, eram todos muito dóceis, inclusive Zorro. o Molosso. Acabou o acariciando, sentando nele, e apertando suas costas com os quadris.  O animal se enfureceu, arreganhou os dentes e os cravou no braço da mulher. O estrago foi grande, sendo preciso chamar um médico para tratar do ferimento.

Ao retornar da viagem, o fidalgo encontrou a esposa de cama e muito abatida, com um grande curativo no braço.

Ao vê-lo, a mulher falou revoltada:

-Agradeço a você esse vexame que eu passei! Se eu não tivesse recebido aquela ordem de não me aproximar do Molosso, jamais isso teria acontecido. Eu nunca teria a ideia de montar o Zorro!!!

Intrigado com o que ouviu, o amo procurou o empregado para esclarecer essa história. Ao ver o patrão, o empregado procurou se justificar:

-O senhor me mandou dizer à sua esposa que não se aproximasse do novo presbítero. Como eu sei que o costume das mulheres é fazer o que lhe proíbem, eu mudei o recado. Se eu tivesse dado o recado certo, ela teria introduzido o presbítero na vossa casa, e só Deus sabe o que teria acontecido! Foi isso que eu quis evitar.  Com a proibição de se aproximar do cachorro, ela sentiu vontade de acariciá-lo e até de montá-lo, o que resultou naquelas mordidas. Se a proibição tivesse sido com relação ao presbítero, a tentação teria sido maior, e o meu patrão teria sido traído  miseravelmente.

Daí por diante, o  empregado passou a ter um tratamento diferenciado. Era mesmo um fiel escudeiro e zelava pelo amo. Afinal, a esposa ser mordida por um cachorro, não envergonhava nenhum marido. Mas com o presbítero, o final teria sido trágico…

 Violante Pimentel – Escritora

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