O EXEMPLO FICA –

Dentre as inúmeras viagens realizadas mundo afora, visitando lugares que fizeram história, nenhuma delas causou-me tamanha angústia, como quando o destino eram campos de concentração, pois facilmente sentia naqueles ambientes, nada mais que maus presságios, energia negativa e maldade pura, o tipo de sentimento que leva o ser humano a perder o controle de suas atitudes.

Quer seja em Dachau, nas cercanias de Munique, Risiera di San Sabba, em Trieste às margens do Adriático, na Itália, ou até mesmo nos brutais cativeiros ainda hoje preservados, nos arredores de Hanoi, no Vietnan, porém nenhum abalou tanto meu espirito, quanto Auschwitz, próximo a Cracóvia na Polônia.

Chegando em Auschwitz-Birkenau, onde milhões de judeus, poloneses, ciganos, soviéticos e civis de outras nacionalidades foram brutalmente exterminados, notei o céu pouco brilhar naquele espaço, enquanto permanente nuvem espessa pairava no ambiente cinza, ao tempo em que mechas de cabelos, dentes e outros pertences dos vitimados, ainda ali expostos, mesmo décadas após a extinção de tamanha atrocidade, pareciam acorrentar a alma dos visitantes ao clima de tristeza.

Nos dias atuais, mesmo com o passar dos anos e o advento da tecnologia, quando as distâncias encurtam, oferecendo condições para o homem conviver em tempo real, com eventos de rara beleza acontecidos nos quadrantes do globo, impressionante é verificar a pratica do ódio, continuar norteando decisões tomadas por seres pensantes.

Os exemplos afloram a cada dia, envolvendo situações nem sempre verdadeiras, criadas para prejudicar e enfraquecer semelhantes, que muitas vezes sentem-se encurralados pelo próprio destino, inúmeros, inclusive não encontrando forças para reagir.

Em momentos de reflexão, chego a imaginar Auschwitz continuar vivo, aqui, ali e acolá, desestimulando muitos a entender ser mais fácil polarizar energias fortalecendo as qualidades dos que respeita, ocupando dias somente beijando e abraçando os que venera e até aglutinando forças em busca de motivos para enaltecer o próximo, e até encontrando meios para aprender serem as pessoas lembradas pelos exemplos transmitidos aos demais.

Recentemente o mundo assistiu ao drama vivido por Vini Junior, atleta brasileiro vinculado ao Real Madri, quando em jogo de futebol acontecido em Valencia na Espanha, por quase sessenta minutos, foi covardemente humilhado por milhares de torcedores do time local. Naquele mesmo dia, compareci ao mercado da produção em Maceió e ali chamou-me a atenção um senhor de cabelos brancos, educadamente fazendo propaganda dos itens que comercializava em sua lojinha especializada em produtos de milho.

Para mim, em ambas situações, restaram os exemplos. Na Europa do primeiro mundo, loucos desvairados imitando símios buscavam desmoralizar alguém. Na periferia do Dique Estrada e Lagoa Mundaú, em uma feira sem conforto, cidadão idoso de forma polida, respeitando os transeuntes, buscava convencê-los a adquirir seus produtos.

Não podemos esquecer que a palavra condena ou absolve, porém o exemplo fica.

 

 

 

 

 

Alberto Rostand Lanverly – Presidente da Academia Alagoana de Letras

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