O EIXO COGNITIVO DA SUSTENTABILIDADE –

Rios, que antes eram fontes naturais de águas límpidas, foram transformados em verdadeiras cloacas a céu aberto, em vertentes de agrotóxicos, e tiveram seus leitos aterrados. Florestas, antes verdejantes, são devastadas e transformadas em campos desnudos de flora, onde os animais silvestres estão ausentes. Mares e oceanos transformados em depósitos de lixo. Lagos que secam, pelo consumo descontrolado das águas que os alimentam. O ar que se respira em certas cidades está carregado de elementos danosos à saúde.

Isso não é catastrofismo. Este é um cenário dantesco do nosso planeta, neste século XXI. Os rios Tietê e Pinheiros, em São Paulo; Pium e Potengi, em Natal; Beberibe e Capibaribe, no Recife, e o canal do Mangue no Rio de Janeiro, são alguns exemplos de vários estágios de transformação de cursos de água em esgotos. O Brasil é campeão mundial em desmatamento de florestas. A Baia da Guanabara recebe diariamente toneladas de dejetos e detritos domésticos ou industriais.

No meado dos anos 1980, estive na região centro-ocidental do continente africano, estudando a antiga rota de escravos que, partindo do sul do Saara, atravessava o deserto em direção ao Mar Mediterrâneo. É uma região extremamente seca e de altas temperaturas, onde o Lago Chade destoa pela sua grandeza. É a única fonte de água potável numa das regiões mais secas do planeta, que possui a terceira maior concentração de água doce da África. Mas está morrendo, seca dia a dia. É tão importante, que é ponto de encontro das fronteiras de quatro países: Chade, Camarão, Nigéria e Níger. Originalmente com cerca de 350 mil quilômetros quadrados; em 1963 tinha 25 mil e hoje tem apenas 1.300 quilômetros quadrados de superfície. Essa redução ocorre paralela aos processos de desflorestamento e desertificação, ocasionados por dois fenômenos: uma enorme redução da quantidade de chuvas nas últimas décadas e o aumento da demanda de água para abastecimento da população e para irrigação, que quadruplicou desde o começo dos anos 1960.

O mesmo problema atinge o Mar Morto, que já perdeu um terço da sua superfície, em um processo que se iniciou em 1960, pelo desvio das águas do Rio Jordão, o maior vertedouro de água no Mar Morto – 60%, por Israel, através do Aqueduto Nacional, e o restante por barragens construídas pela Síria e pela Jordânia. Com a conclusão da Unity Dam, um empreendimento conjunto sírio-jordaniano sobre o rio Yarmuk, maior afluente do baixo Jordão, este poderá ter a sua vazão reduzida em mais 25%.

Em todo o mundo a urbanização da população e o desenvolvimento industrial vêm ocasionando um aumento crescente da emissão de poluentes atmosféricos. Cidades como São Paulo, Belo Horizonte e México são exemplos típicos desse fenômeno. Nas cidades chinesas o problema é bem maior. Nelas o ar que se respira é um dos piores do mundo. Essa poluição atmosférica afeta a saúde de milhões de pessoas, transformando-as em vítimas de doenças respiratórias, como bronquite, rinite e asma.

Londres, quando foi o centro do mundo capitalista e capital do Império Britânico, era também o exemplo marcado da poluição, com a putrefação do Tamisa e o seu célebre fog, um nevoeiro espesso carregado de fuligem. Hoje, Londres e o capitalismo são outros. Tanto os governos dos países capitalistas como as grandes corporações mais conscientes, lutam contra o custo da depredação da natureza. Londres voltou a ser exemplo e hoje é referência pela recuperação da pureza das águas do seu rio e pela quase ausência de poluição atmosférica.

Por outro lado, uma das maiores obras de engenharia do mundo socialista, na finada União Soviética, foi o Canal Volga-Don, ligando o Rio Volga ao Rio Dom. O problema dessa obra gigantesca é que o governo soviético não levou em conta o Mar Cáspio que, entre 1930 e 1978, teve o nível das suas águas do Mar Cáspio diminuído continuamente.

Ambientalista de esquerda ou de direita é balela. Nas questões ecológicas, as posições políticas tradicionais perdem terreno e se transformam em projeções pessoais, desprovidas de base e eixo cognitivos.

 

Publicado originalmente na Tribuna do Norte. Natal, 04 jul. 2021

 

 

 

 

 

 

Tomislav R. Femenick – Jornalista, historiador e membro do  IHGRN

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