O CRIME DE SER POBRE –

Acho fácil escrever sobre o amor. Sou um amante inveterado, amo as coisas boas do nosso habitat. Agora, escrever sobre revolta, indignação, acho terrível, ás vezes até extrapolo no que quero me expressar. Mas vamos tentar.

Morreu um velho conhecido meu, até aí tudo normal, nascemos para morrer. Acontece que vivi a sua morte, participei e acho que até certo ponto fui cúmplice, porque minhas atitudes foram pequenas em relação o que poderia ter feito para amenizar seu sofrimento. O caso era gravíssimo, um AVC em grande intensidade, não sei o nome técnico, pois não sou médico. E aí? Por que me acho cúmplice? Porque faço parte desta sociedade apática, lerda, sem interesse em tomar atitudes. Mas, vamos continuar. Fui chamado por sua esposa que chorando muito me comunicou que ele estava hospitalizado no hospital Walfredo Gurgel, De pronto me desloquei até lá. Fomos informados da gravidade do seu caso, mas que ele estava sendo atendido. Saí e pedi notícias sua, recebendo a mesma resposta. Qual não foi a minha surpresa ao chegar no outro dia, e ser informado que ele estava no corredor, em uma maca, vomitando sangue e inconsciente (quase vinte e quatro horas depois). Aí fui à frente, telefonei para alguns amigos médicos que lá trabalham e realmente eles nos ajudaram. Procurei saber onde ele estava. Pasmem! Ainda estava estirado na maca dos SUS (isto porque o caso era gravíssimo). Procurei uma vaga nas UTI de todos os hospitais públicos e não encontrei, entrei, andei pelos corredores e vi cenas revoltantes, pessoas morrendo em cima de macas, sofrendo, com assistência precaríssima, ou sem nenhuma assistência. Sabem por quê? Porque são pobres. Meu caseiro morreu e até para ser feito seu atestado de óbito (quase quinze horas depois), nos pediram para comprar luvas, pois nem isto o hospital tinha.

Outro assunto. A morte de duas crianças pobres, duas crianças do sexo feminino. Duas? Sim, disse do sexo feminino, pois do sexo masculino se mata quase todos os dias. E sabem por quê? Porque são pobres. Crianças pobres estão sendo exterminada na cara de uma polícia inexpressiva, incompetente, passiva, sem atitudes.

Diz a Constituição Brasileira, que saúde, segurança e educação são direitos de todos. Pergunto-me: Pobre no Brasil tem direito a o quê? Morrer a míngua, não pode adoecer que lhe falta tudo, ensino? O ensino público é uma vergonha, segurança? Este ninguém tem, nem pobre, nem rico, só com uma diferença, os filhos dos ricos não estão sendo exterminados.

A nossa sociedade mais aquinhoada é omissa, sempre acha que estes problemas são dos outros, mas quando acontece é que vem a revolta. Perdemos o poder de se indignar, e aceitamos tudo. Em uma sociedade atuante, mais politizada, estes fatos já estariam sendo cobrados com muito mais veemência.

Disse Martin Luther King “O que mais me preocupa não é o grito dos violentos, nem dos corruptos, nem dos desonestos, nem dos sem caráter, nem dos sem ética. O que mais me preocupa é o silencio dos bons”.

Estamos silenciosos demais, esta é nossa fraqueza.

Enquanto isto estamos navegando em duas naus, uma comandada por Lula que já nos jogou em um precipício, e a outra por Bolsonaro que vez por outra faz grandes marola. E eu? Eu fico com a beleza e inocência das crianças…

 

 

 

 

 

 

Guga Coelho Leal – Engenheiro e escritor, membro do IHGRN

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