O BOÇAL –

Habitualmente ele tem a aparência de um janota, ou, para usar uma linguagem mais atual, um mauricinho. Em Portugal seria um betinho. Jovem excessivamente cuidadoso com seu aspecto, sua indumentária, e que frequenta lugares na moda. Diz-se do indivíduo vestido com apuro exagerado; garrido, elegante, peralta, casquilho. Mas, não é exatamente dessa aparência externa que nos ocuparemos. Iremos nos deter no modo de pensar e de se expressar do boçal. A sua aparência de superioridade, a sua auto-suficiência, a sua magnanimidade.

Na conversa mais informal ele assume ares doutorais, é o absoluto dono da verdade, não admite contestações. A sua ironia não é fina. A sua intenção depreciativa e sarcástica em relação ao interlocutor deixa patente a sua total falta de urbanidade, a sua indelicadeza. A sua manifestação é sempre intencional, malévola, irônica e maliciosa. Por meio do riso, de palavras, atitudes ou gestos, procura levar ao ridículo e expor ao desdém e menosprezo uma pessoa, instituição, coisa e até os sentimentos.

Não sabe fazer elogios, mas adora recebê-los; é um crítico ácido e impiedoso, mas não aceita a menor censura; com deboche, zombaria e escárnio os amigos e conhecidos do boçal são tratados, mas não ouse, jamais!, tratá-lo da mesma forma, pois ele fica magoado, transforma-se em vítima vilipendiada, desprezada e repelida.

Alguns boçais têm a característica de conseguir enganar muitas pessoas. E às vezes por muito tempo. “Pode-se enganar todo o mundo durante algum tempo, e certas pessoas durante o tempo todo, mas não se pode enganar todo o mundo todo o tempo”, já dizia Abraham Lincoln (1809 – 1865), com o seu inglês impecável: You can fool all the people some of the time, and some of the people all the time, but you cannot fool all the people all of the time. Acabei de cometer uma boçalidade…

A palavra vem do espanhol bozal ou buçal, e quer dizer rude, ignorante, estúpido, grosseiro. Dizia-se do escravo negro ainda não ladino, recém-chegado da África e desconhecedor da língua do país; caramutanje, negro-novo. Eles, os boçais, se especializaram na zombaria, caçoada, chacota, deboche, escárnio, gaita, galhofa, ludíbrio, mangação, moca, mofa, momo, motejo, remoque, sarcasmo, troça e mangoça ou mangofa.

Uma das principais características do boçal é ser subserviente, babão, puxa-saco, sabujo, xereta, adulador dos poderosos e cruel, crudelíssimo, com os subordinados. Forte para os fracos e fraco para os fortes.

Mas, nenhum termo define melhor o boçal do que o neologismo mossoroense: bosteiro. O boçal é, antes de tudo, um bosteiro. Não consta no dicionário, mas se o Aurélio fosse vivo acrescentaria esse verbete, pois já existe o verbo bostejar que no Maranhão significa dizer tolices, assim como bostífero é reles, ordinário.

Shakespeare (1564 – 1616) já dizia que “o bobo se acha sábio, mas o sábio se sabe um bobo” ou, ainda, “a burrice do bobo é sempre a pedra de amolar dos espirituosos.” Haja paciência e espirituosidade para suportar esses bosteiros bostíferos!

 

Armando Negreiros – Médico e Escritor
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