O BIG BEN ESTÁ DENTRO DE MIM –

Admiro pessoas que são pontuais, pois respeitando horários, oferecem o indicio de possuírem certo controle sobre as circunstâncias da vida, em vez de se atrapalhar terceiros e até causar imprevistos. Além do mais chegar em algum lugar, pouco antes do horário marcado, evita o estresse e não faz mal a ninguém.

Dias atrás encontrava-me em uma dessas filas que enfrentamos no embarque dos aeroportos, aguardando a vez para ser atendido, enquanto escutava amistosas conversas, vindas de grupinhos formados aleatoriamente, por pessoas que mesmo sem se conhecerem, aproveitavam a ocasião para detalhar suas experiências além fronteira, e apesar da espera, o sorriso iluminava a todos.

Eis que chega novo passageiro, mesmo bastante atrasado, foi logo apontando para os cabelos grisalhos, ao tempo em que tentava posicionar-se à frente de todos, havendo contudo esquecido de verificar, ser aquele alinhamento formado exclusivamente por idosos. Após repelido, apesar de irritado, ocupou o local a ele reservado: o último.

Lembro de sua cara feia quando em alta voz começou a reclamar, primeiro da pouca iluminação do local, depois da demora dos atendentes, havendo posteriormente escolhido uma senhora para Cristo e começado a lhe soltar o verbo, porque não sei.

Ao tempo em que a discussão esquentava, cautelosamente comecei a achar graça, pois a criatura mais parecia um desmiolado feroz, se não fosse trágico, seria cômico.

Aos poucos, todos mudaram de fisionomia, antes alegres e calmos em bate-papo salutar e gostoso, aguardando tranquilamente, enquanto falavam nos dólares que haviam despendido. Após o infeliz acontecido, a maioria apresentava semblante pesado, cenho franzido e pareciam assimilar, vibrações negativas e destrutivas expelidas pelo retardatário.

Horas depois, já em pleno voo, lembrei do imprevisto e somente solidifiquei a certeza de que quando o tema é pontualidade, para mim não tem jeito, ou se é pontual ou não é. Faço parte do time dos que se apresentam na hora, apesar de consciente não se tratar tal fato uma qualidade, na verdade, é grande sofrimento

Sinto-me refém do relógio, respeito os minutos que passam, imagino nunca vai dar tempo. Saio mais cedo sempre, me apresentando com antecedência, seja no estádio de futebol, medico, compromissos e até casamentos, só para ver a noiva entrar, mesmo já sabendo que ela se fará tardia, como quase todas, sempre mais de sessenta minutos.

Por isso entendo, serem felizes os que não tem hora, pois se acham livres. Chegam no instante que chegam. E a vida corre normal. Não sofrem de gastrite, de nervosismo. Sempre pensam que o mundo está à sua espera.

Mas comigo não tem jeito, uma vez pontual, sempre pontual. Não é algo que escolhi, o Big Ben está dentro de mim. Acalento a certeza de que no trem da vida a beleza é passageira e o tempo são os trilhos a percorrer.

Voltando para o episódio do encrenqueiro, mesmo como derradeiro, conseguiu entrar na aeronave, e por haver sentado poltronas à frente de onde me encontrava, chegando no destino, ao desembarcar ainda pisou em solo brasileiro antes de mim.

 

 

 

 

 

 

Alberto Rostand Lanverly – Presidente da Academia Alagoana de Letras

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