O BECO –

O beco é pioneiro, na criação das cidades. É a fixação demográfica, que surgiu com as estradas, em cujas orlas se edificaram povoados, vilas e cidades.

“ O BECO DA QUARENTENA” é um marco histórico em Natal (RN). É uma ruela de passagem entre as ruas Chile e Frei Miguelinho, no Bairro da Ribeira (Cidade Baixa), medindo uma largura de dois por sessenta metros de comprimento
A origem do nome está ligada ao tempo da epidemia do Cólera Morbus, que ocorreu no início da segunda metade do século 19. A contar dessa época, é uma das ruelas mais antigas da capital potiguar.

Contam os historiadores que as embarcações ficavam no porto durante 40 dias, a fim de que seus tripulantes não recebessem ou transmitissem o contágio. Como havia mais facilidade de hospedagem no Bairro da Ribeira, na época, núcleo central da população da cidade, os marinheiros, de quarentena, ficavam hospedados nesse Beco e adjacências, a poucos metros de distância do cais do porto.

A denominação “Beco da Quarentena”, resultou, portanto, da hospedagem de marinheiros no cumprimento de quarentena, durante a epidemia do Cólera Morbus, e também da Variola (bexiga) e da Febre Amarela.
No princípio, o beco tinha somente umas quatro ou seis casas. Com o passar do tempo, o Bairro da Ribeira se desenvolveu muito, com o aumento da população e o florescimento do Estado, nos setores econômico, social e religioso.
Entretanto, com o fim da Segunda Guerra Mundial, a Ribeira entrou em decadência. E o Beco da Quarentena, onde havia promiscuidade barata, e ambientes simples, foi jogado ao ostracismo. A Cidade Alta progrediu e a Ribeira (Cidade Baixa) regrediu socialmente. O bairro foi esvaziando e os frequentadores sumiram. Dessa forma, o Beco da Quarentena foi perdendo os fregueses. As operárias do sexo, que já eram pobres, tiveram que procurar outro “emprego”. Não era mais um ponto lucrativo para elas.
O Beco da Quarentena sucumbiu, ficando a fama de local perigoso, que atraía frequentadores de conduta duvidosa.

Como o Beco da Quarentena, existem outros becos em Natal, totalmente abandonados pelo poder público, que não se empenha em preservar a memória da cidade. Alguns já desapareceram na voragem das novas edificações. Outros já perderam a denominação original e receberam nomes de pessoas que nunca se destacaram nem fizeram nada pelo Estado, numa demonstração de puxa-saquismo, sempre na moda. Isso também acontece com relação a nomes de ruas e avenidas, que são substituídos, de repente, num desrespeito à memória da cidade.

O Beco da Quarentena, hoje abandonado, faz parte da memória do Bairro da Ribeira (Cidade Baixa), como local simples, com casas de prostituição barata. Ali, habitavam mulheres muito pobres, que remendavam seus sonhos com pedaços de nuvens. Mulheres infelizes, que por uma fatalidade do destino, se viram lançadas ao lamaçal dos bordeis, por circunstâncias alheias à sua vontade. Todas provinham de um sonho desfeito, uma desilusão com um ídolo de ouro, que de repente se transformara em ídolo de barro e ruíra aos seus pés, como contas de um rosário rolando pelo chão.

 

 

 

Violante Pimentel – Escritora

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