O BARÃO DE ITARARÉ –

Uma vez ou outra eu me dedico a exaltar a inteligência do gaúcho Aparício Torelli, a quem muito admiro, pelo fato de praticar um jornalismo com humor, inteligência e graça para criticar o status quo de maneira ácida, porém desprovido de baixaria, grosseria e palavras chulas. Algo difícil de encontrar na atualidade com o advento das redes sociais substituindo a imprensa escrita.

Aparício nasceu em Rio Grande, no Rio Grande do Sul, no dia 29 de janeiro de 1895. Estudou medicina e bacharelado em línguas, mas abandonou os cursos às vésperas de concluí-los. Aos 30 anos foi tentar a sorte como jornalista no Rio de Janeiro. Trabalhou em O Globo, transferiu-se para A Manhã, contudo, movido pela determinação de fundar o seu próprio jornal abandonou o emprego, retirou o til de A Manhã e fundou A Manhã. O jornal teve imensa aceitação e logo se firmou na preferência dos cariocas.

Com o sucesso vieram também os inimigos advindos das críticas duras e do estardalhaço dado a cada denúncia publicada. As irreverentes estocadas nas autoridades instaladas no poder pela Revolução de 30 resultaram em inúmeras prisões do dono do jornal.

Ficou conhecido na imprensa nacional como Barão de Itararé, e assim justificou o pseudônimo assumido: Se eu fosse esperar que alguém me reconhecesse o mérito, não arranjava nada. Então passei a Barão de Itararé, em homenagem à batalha que não houve. O Brasil é muito grande para tão poucos duques.

A Manha era a cara do Barão. Durante os 26 anos de existência foi o veículo perfeito para as suas duras investidas. São do período áureo de A Manha as máximas aqui selecionadas:

– A televisão é a maior maravilha da ciência a serviço da imbecilidade    humana.

– Os índios andavam à vontade porque nunca desconfiaram que um dia apareceriam na História do Brasil.

– A forca é o mais desagradável dos instrumentos de corda.

– Sábio é o homem que chega a ter consciência da sua ignorância.

– Negociata é todo bom negócio para o qual não fomos convidados.

– Não é triste mudar de ideias, triste é não ter ideias para mudar.

– Os homens nascem iguais, mas no dia seguinte já são diferentes.

– Quanto mais conheço os homens mais gosto das mulheres.

– O banco é uma instituição que empresta dinheiro à gente, se a gente apresentar provas suficientes de que não precisa de dinheiro.

– Dize-me com quem andas e direi se vou contigo.

– De onde menos se espera daí é que não sai nada.

– Eu Cavo, Tu Cavas, Ele Cava, Nós Cavamos, Vós Cavais, Eles Cavam. Não é bonito nem rima, mas é profundo.

– As duas cobras que estão no anel do médico significam que o médico cobra duas vezes, isto é, se cura cobra, e se mata, cobra.

– Devo tanto que, se chamo alguém de “meu bem”, o banco toma.

– O voto deve ser absolutamente secreto. Só assim, afinal, o eleitor não terá vergonha de votar no seu candidato.

Por fim, a sua mais celebrada máxima atribuída a diferentes autores: O que a gente leva da vida é a vida que a gente leva.

 

 

 

 

 

 

José Narcelio Marques Sousa – Engenheiro Civil

As opiniões contidas nos artigos/crônicas são de responsabilidade dos colaboradores

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