O BAIRRO DA RIBEIRA –

Nasceu banhado pelas águas do Rio Potengi e o seu crescimento foi impulsionado pela construção do porto iniciada no final do século XIX.
O topônimo Ribeira, segundo o historiador Câmara Cascudo, “porque a Praça Augusto Severo era uma campina alagada pelos mares do Potengi. As águas lavavam os pés dos morros. Onde está o teatro Carlos Gomes tomava-se banho salgado em fins do século XIX”.
O povoamento deste bairro processou-se em ritmo lento, sendo região para plantações morando apenas os guardas dos armazéns que vigiavam as mercadorias exportadas para Pernambuco.
Seu crescimento verificou-se no final do século XIX para o inicio do século XX e em 1905 foi o primeiro bairro a receber iluminação pública.
Em 1904, através do projeto de revitalização começou a receber melhorias de drenagem, calcamento, iluminação, recuperação das fachadas dos imóveis da Rua Chile e instalação de casas de shows.
Foi oficializado como bairro pela Lei nº 251 de 30 de setembro de 1947, na administração do Prefeito Silvio Pedroza.
A Praça Augusto Severo, inaugurada pelo Governador Augusto Tavares de Lira em 15 de novembro de 1905 foi uma homenagem à Augusto Severo de Albuquerque Maranhão um dos pioneiros da aviação cujo falecimento ocorreu em 12 de maio de 1902, quando um incêndio a bordo destruiu o “PAX” no momento que ele sobrevoava Paris.
Após sua inauguração, foi o ponto de atração da nossa cidade e durante mais de duas décadas, todo final de semana a Banda de Música do Batalhão de Segurança fazia retretas, deleitando o público com dobrados e músicas clássicas.
Era um verdadeiro bosque com árvores frondosas, vários bancos, jardins floridos que proporcionavam à população bem-estar, sossego e paz de espírito, principalmente nos meses de verão. Havia uma cabana que foi um recanto íntimo de namorados felizes e de recordações agradáveis.
A estátua à Augusto Severo inaugurada no dia 12 de maio de 1923 estava coberta pelas bandeiras brasileira e francesa sendo que esta última foi a mesma que envolveu o corpo do homenageado no seu translado de Paris para o Rio de Janeiro.
O Graf Zeppelin, balão dirigível de fabricação alemã sobrevoou duas vezes este logradouro em homenagem ao aeronauta potiguar jogando ramalhete de flores naturais nos anos de 1930 e 1933.
A Estação Rodoviária foi inaugurada em 15 de dezembro de 1963 na gestão do Prefeito Djalma Maranhão e pode ser inserida como uma maneira de revitalização do bairro em virtude do esvaziamento de suas atividades comerciais e financeiras.
A Escola Doméstica de Natal, inaugurada em 1º de setembro de 1914 ocupar lugar de destaque pelo pioneirismo dos que a idealizam, tendo nascido da feliz iniciativa de poeta e escritor Henrique Castriciano de Souza. Atualmente situa-se na Av. Hermes da Fonseca sendo eficiente e brilhantemente dirigida pela Professora Noilde Pessoa Ramalho, um dos maiores nomes do ensino brasileiro.
O Teatro Carlos Gomes, passou a chamar-se Alberto Maranhão mediante a Lei Municipal nº 744 de 23 de agosto de 1957, baixada pelo Prefeito Djalma Maranhão. Atualmente o TAM é órgão suplementar da Fundação José Augusto.
O Grupo Escolar Augusto Severo foi inaugurado em 12 de junho de 1908 pelo Governador Alberto Maranhão. Abrigou posteriormente a Escola Normal e a Escola Isolada Noturna.
De 1952 a 1954, o Atheneu Norte-Rio-Grandense instalou-se em suas dependências, enquanto o Governo do Estado concluía a sua edificação no Tirol.
De 1956 a 1974, a Faculdade de Direito funcionou também no antigo Grupo Escolar. Com a transferência desta para o Campus Universitário, a Secretaria de Segurança Pública instalou-se no prédio do Augusto Severo e atualmente se encontra no Centro Administrativo do Governo do Estado com o nome de Secretaria de Defesa Social.
O Cine Polyteama festivamente inaugurado em 8 de dezembro de 1911 desempenhou um papel importante na vida da cidade. Quanto ao público que o freqüentava, disse o poeta Augusto Severo Neto “As moças e senhoras de Natal se vestiam de melindrosas, usavam fitas de veludo no cabelo e um “pendentif” (jóia que se usava pendurada em colar, em corrente, ao pescoço). Os rapazes e senhores usavam calças de flanela, paletó listrado com lenço no bolso e sapato de duas cores”.
Durante a II Guerra Mundial os proprietários alugaram o prédio aos americanos que instalam um clube destinado ao lazer e divertimento dos soldados e marinheiros dos Estados Unidos aqui sediados.
Este bairro abrigou durante muitos anos diversos cabarés, onde as meninas de vida fácil (fácil?) tiravam seu sustento. Em diversas ocasiões registraram-se brigas severas entre os soldados americanos e os nativos de nossa cidade durante a Segunda Guerra Mundial.
Diversas empresas se destacaram no comércio da Ribeira, como a: A. dos Reis & Cia., A. Gomes & Cia., Lira de Oliveira. Podemos citar, ainda: Confeitaria Delícia, Hotel dos Leões, que foi vendido ao Sr. Teodorico Bezerra, Agência do Banco do Povo, o Colégio Salesiano, Junta Comercial, Estação da Great Western.
Neste Bairro, ainda estão localizados os prédios do Jornal A República, Jornal Tribuna do Norte, a casa do Historiador Luís da Câmara Cascudo, o Solar Bela Vista, a sede da OAB e a Capitania das Artes.
Registramos com o orgulho de todo Norte-Rio-Grandense o sobrado da Av. Junqueira Aires, 377 onde viveu Câmara Cascudo que marcou uma grande e imorredoura presença no panorama da cultura brasileira. Alem de historiador, foi folclorista, antropologista cultural e etnógrafo. Patrimônio do Rio Grande do Norte e do Brasil é merecedor da nossa maior e mais profunda admiração. Através do meu estimado amigo Cleto Barreto tive a subida honra de conhecê-lo em seu casarão residencial.

Lenilson CarvalhoDentista e escritor

As opiniões contidas nos artigos são de responsabilidade dos colaboradores

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *