NOSSA! QUE CRUZ PESADA… –

Tome a sua cruz e siga-me! (Marcos 8:34)

Está bem claro que a “sua” cruz é aquela, própria, particular, afeita ao seu corpo e à sua alma. Exclusiva. Manequim único e personalizado de acordo com a moda e atualizada permanentemente para que não fique inadequada. Usada em qualquer parte do mundo, ajustada em todas as línguas, moldadas em qualquer corpo de qualquer raça, feita de qualquer tipo de material, com pesos e medidas certas, de modo que cada um de nós possamos carregá-la. Lamentando, chorando, sofrendo, comparado a sua com a minha, mesmo assim, própria.

Poderia até ser gravada com letras douradas conforme o tamanho da sua luta: “Essa cruz pertence a fulano de tal”. Nela não tem espaço para ser fixada nenhuma placa do tipo: “Vende-se” ou “Troca-se”. Certamente não haveria interessados. Até porque a cruz de cada um, ao nascer, se funde com a carne humana e com o espírito divino, para que ao arrastá-la, pela caminhada na vida, fique o rasto do qual Deus disporá para nos encontrar e aliviar definitivamente tamanho peso: “Vinde a mim, todos os que estais cansados e oprimidos, e eu vos aliviarei”.

Pois bem! Eu também tenho a minha cruz. Ou achavam que só vocês tinham?

Tenho percebido que ao longo do caminho ela tem mudado de peso e que o arrasto, em alguns momentos, tem sido mais deslizante, como se o atrito diminuísse e a trepidação das intempéries da vida ficasse mais suave.

Certo dia, sentei-me sob uma árvore, cansado da vida, problemas sobre problemas, simbolicamente pus a minha cruz sobre as coxas e olhando para o céu, grandioso no seu infinito, indaguei o motivo do porquê de tanto peso. Uma voz no meu coração, como que soprada por um lapso de intuição e inspiração, chamou a minha atenção: “Você viu que a sua cruz possui uma quantidade de gavetas que foram surgindo com o tempo de sua maturidade?”. Tomei um susto. Rebusquei na memória as dificuldades passadas e olhando para a minha cruz, fui observando (sentindo) que realmente algumas reentrâncias eram pequenas gavetas. Curiosamente fui “abrindo” cada uma delas e percebi que umas estavam vazias e outras transbordantes. Fiquei confuso. Aos poucos fui entendendo a “resposta”: as vazias eram aquelas que ao longo do tempo fui perdoando e orando por aqueles que me importunavam. As transbordantes eram aquelas que eu ainda insistia na fraqueza da fé, nas dores que eu não cuidava de curá-las, na falta de compartilhar mais amor e empenho em ajudar o outro e, parte, por transferir de outras cruzes pesos que não me caberia carregá-los.

Apressei-me em querer abrir todas as gavetas, mas a mesma voz interna, me alertou: “Algumas você não conseguirá abri-las assim tão facilmente”. Gelei. “Essas trazem coisas do passado que ainda faltam ser buriladas pelo amor e pelo não lamentar”. “Portanto, levante-se, tome a sua cruz e siga-me!”. “Tomai sobre vós o meu jugo, e aprendei de mim, que sou manso e humilde de coração, e encontrareis descanso para a vossa alma”.

Daí em diante passei a cuidar da minha cruz, polindo-a, ajeitando as partes desgastadas, checando as gavetas a cada boa ação, avaliando o seu peso a cada entrega dos problemas a Deus, bordando o nome de todos aqueles que me deram a mão, enfim, deixando de comparar com a cruz do outro.

Também aprendi que por mais fraco que eu esteja, por mais frágil que seja a minha saúde, mesmo assim consigo suportar o peso da minha cruz. Desconfio de que Deus, sabedor das minhas debilidades, delega a Simão de Cirene a caridade em me ajudar.

Compreendi que a cruz não tem só o significado de sofrimento. Ela também representa tudo que acumulamos de alegrias e realizações. Boa parte das “lascas” estão impregnadas dos sorrisos que recebemos e mais ainda dos que proporcionamos ao próximo. Essas lascas não têm peso, pois elas, fundamentalmente, foram moldadas no amor.

Então tá. A minha cruz já cansou você.

Como você tem conduzido e cuidado da sua?

Nossa! Que cruz pesada… ou apenas não estamos sabendo avaliar o seu peso?

 

 

 

 

 

 

Carlos Alberto Josuá Costa – Engenheiro Civil, escritor e Membro da Academia Macaibense de Letras ([email protected])

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