NOS TEMPOS DA CABUGI –

Tem horas que me sinto como um ancião tribal, ao redor de uma fogueira, contando histórias, revivendo casos e informando aos jovens e interessados como era o mundo e como eram as coisas nos tempos idos. É com essa intenção que faço algumas narrativas. Às vezes, como agora, têm a ver com a minha vida.

Ela hoje é Rádio Globo. Não sei se ainda tem os mesmos donos, porém mudou de nome forçada pelas exigências do mercado midiático. Parece que ainda está no mesmo local, uma esquina da Avenida Duque de Caxias, para onde foi mudada, desde a Rua Princesa Isabel, depois de ter vivido os seus melhores momentos na Praça Pedro II, de cara com a Igreja de São Pedro, no Alecrim. Ostentava o nome do pico incrustado na região de origem da família Alves, proprietária da Emissora. E foi ali, diante da Praça, na então Rádio Cabugi que eu tive oportunidade de conviver com artistas que habitavam meu mundo de fã adolescente, vidrado nas novelas, nos programas de auditório, nos humorísticos e no mundo de vozes que preenchiam as nossas horas de lazer doméstico. A Cabugi, nos anos 60, era um pouco diferente da Rádio Poti que escravizara a nossa atenção nos anos 50, tempo da infância e de sonhos mais puros.

Levado pelo meu amigo Bernardo Gama, em janeiro de 1965, fui trabalhar na Rádio como auxiliar de contabilidade, sob as ordens diretas de um homem firme, porém alegre e generoso: o contador da firma, Luiz Ferreira dos Santos, tenente reformado da Marinha, grande mestre moral e profissional. Revelando o meu interesse em participar do elenco artístico, fui então provocado, sem prejuízo do trabalho burocrático, a realizar algumas tarefas do setor de jornalismo, com a leitura de boletins noticiários de hora em hora, e depois comandando programa dominical, das 8 às 12 horas. As atrações, produzidos pelo competente e experiente Francisco Elias, eram o Festival da Juventude, quando fazíamos lançamento das últimas novidades em música popular jovem, com atendimento aos ouvintes por carta e telefone. Em seguida, A Cidade se Diverte, um programa de variedades.

Oura saborosa experiência foram as novelas. O gênero, sucesso da década anterior, na Rádio Poti, tentava voltar ao ar pelas mãos e por ideia de Sandra Maria, egressa do antigo cast, juntamente com o marido, Nilson Freire. Fui “descoberto” como ator e tive a felicidade de partilhar das novas produções, junto a um elenco onde figuravam nomes de grande peso como a própria Sandra, Nilson, Paulo Ferreira, grande radialista e enorme caráter; Lourdes Nascimento, Clarice Palma, José Wilde, jornalista e ator; Nice Fernandes; Glorinha Vitor, também locutora; Dóris Sandra; Francisco Elias, produtor; José de Sousa e, principalmente, a lendária e talentosa Glorinha Oliveira. A maioria, também de locutores. Como radioator, tive participações em encenações por ocasião de Semana Santa e outros eventos, e também na nascente Patrulha da Cidade, cria do jornalista Abimael Morais. Outra incursão foi na equipe esportiva. Comandei alguns plantões aos domingos, em monótonas tardes de transmissões, ocasião em que, estimulado por Seu Almerindo, o porteiro, e em meio a tosses e sufocamentos, fumei os primeiros cigarros. Depois, no Estádio Juvenal Lamartine, em companhia e sob a supervisão de grande amigo Rubens Lemos, fui testado como repórter “de pista”, que era o cargo de quem fazia entrevistas e intervenções à beira do gramado. Não deu certo, assim como não deu certo a minha participação como repórter carnavalesco. Por timidez e pouco vocabulário, eu relutava e tinha dificuldades em falar de improviso. Preferia o trabalho de estúdio, mais seguro e confortável. É isso…

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Alberto da Hora – escritor, cordelista, músico, cantor e regente de corais

As opiniões contidas nos artigos/crônicas são de responsabilidade dos colaboradores

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *