NOME PRA QUE TE QUERO –

Até que a maioria das pessoas se acostumasse, vivenciei muitas situações curiosas em razão desse da Hora, oriundo do meu pai. Fui registrado apenas com o sobrenome paterno, e isto foi um eterno motivo para o descontentamento da minha mãe, que teve, por descuido do senhor Miguel Florêncio da Hora, o seu sobrenome excluído do meu nome completo. Na adolescência e na juventude, sentia-me desconfortável quando precisava declarar um nome que causava, em grande parte das pessoas, muita curiosidade e perguntas inconvenientes. “Que horas são?”, “Qual é a marca do seu relógio?”, “Está cedo ou está na hora?”, são algumas das besteiras que eu tinha de aturar de colegas, professores e conhecidos, ou não, na época em que poucos tinham notícia de outras famílias usuárias do sobrenome. Atualmente, o nome está mais notório, e muitos já sabem que existem vários da Hora, além da minha pessoa. E quando me perguntam se conheço ou reconheço fulano ou sicrano como parentes, respondo que não, que devem ser “hora” de relógios diferentes.

Trabalhando na Caixa, na época em que era responsável pelo Cadastro Geral de clientes, recebia pessoas procurando falar com “seu Duó”, ou com a “senhora” da Hora, e uma moça na Universidade certa vez perguntou a Carlos Freire, meu colega de trabalho, se ele conhecia a “encarregada” do Cadastro, uma tal de “Dona Dóra”. Procurei enfrentar com bom humor a maioria desses inconvenientes e as confusões geradas por um sobrenome que atualmente considero banal, embora vez por outra eu tenha que explicar a alguém que não, aquela Imobiliária que ostenta a marca Da Hora não é de minha propriedade. E até bem recentemente, informando o meu nome a uma atendente de consultório médico, ela estranhou e perguntou: “Da Hora? É assim mesmo? O senhor não está querendo dizer ‘da Rocha’, não?”. Respondi que era assim mesmo, que eu já tinha bastante idade para saber meu nome verdadeiro, e quase acrescentava: “é que a senhora é distraída ou desinformada!”. Em Pernambuco, na Bahia e em Sergipe, por exemplo, isso não aconteceria, porque lá – eu sabia há bastante tempo – existem numerosos ramos dessa família.

Devemos entender que, como os nomes e sobrenomes das pessoas exercem influência nas suas vidas, cabe aos pais a obrigação de registrar os filhos de modo a não lhes causar desconforto e inconveniências na sua idade adulta. Nomear um filho não deve ser um ato de prazer e satisfação das vaidades paternas; não é para o usufruto do pai ou da mãe. Conheci pessoas que impuseram aos filhos nomes delirantes, quilométricos, com sobrenomes criados por eles, sem qualquer relação com seus ancestrais. Outros, fazem composições que, à semelhança das famílias reais, contemplam a genealogia dos pais e todos os avós, algo totalmente desnecessário na prática. Alguns costumam fazer misturas e junções que resultam em vocábulos originais e até engraçados, ou têm o hábito de impingir aos seus filhos nomes estrangeiros, ensejando algumas embaraçosas e risíveis corrutelas. Talvez por isso existam não raros exemplos de pessoas insatisfeitas, que recorrem à Lei para mudar seus nomes, mesmo causando ou enfrentando constrangimentos e reações contrárias. Alguns consideram um grande desrespeito com as escolhas e as vontades paternas o que é, na verdade, um ato legítimo de independência individual.

Os nomes da sua preferência não serão usados pelos pais, e sim pelos filhos no seu futuro como adultos. Essa escolha é uma decisão de grande responsabilidade e não deveria ser motivo de transtorno ou provocar situações inoportunas para aqueles que não escolheram nascer, nem tiveram chance ou condição para determinar seu próprio nome.

 

 

 

 

Alberto da Hora – escritor, músico, cantor e regente de corais

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