NOITES DE SÃO JOÃO –

“Olha para o céu meu mor, vê como ele está lindo” Ouvindo estes versos hoje pela manhã, na música cantada por Luiz Gonzaga, lembrei-me da Noite de São João no engenho Boa Vista, situado em São José de Mipibu.

Havia balão no ar, quadrilha de gente honesta e simples, tocada em frente a igrejinha que ficava aberta a noite toda, e a sanfona tocada por Chico Tanoeiro gemia a madrugada toda. Tinha fogos, comida feitas de milho bem verdinho, rapaduras e cachaça fabricadas no próprio engenho.

Os homens vestiam roupas novas e pés descalços, as mulheres de vestidos rodados e coloridos.
Lembro que os preparativos começavam pela manhã quando juntamente com vovô e vovó íamos tomar leite no “peito da vaca”, e depois estávamos liberados para as nossas brincadeiras.

Geralmente íamos ver os carros de boi carregados de cana, e suas cantigas tristes como se o boi pedisse piedade pelo peso excessivo, ou pela dor sofrida pela vara do carreiro que furava o boi. Íamos brincar no rio cheio, ou armar as arapucas para pegar pássaros e soltá-los a noite, pegar preá do mato elevá-los para criar soltos no quintal da casa grande, na bagaceira brincávamos de tica, bandeirinha e outras brincadeiras infantis.

Cai a noite, o céu de um escuro maior, ficava muito mais estrelado, preparativos para abrir e acender as luzes da igrejinha para as orações de São João e depois acender a fogueira, cantorias e danças ao som da sanfona de Chico, o zabumba de Zé de Olinto e o triangulo de Penteado, estava formado o trio, fogos de artifícios a clarear a noite.

Na casa grande de portas e janelas abertas as comidas típicas: macaxeira, tapioca, canjicas, pamonhas, milhos cozidos e assados no espeto na fogueira, roletes de cana etc.

Cada morador do engenho levava os seus familiares, eu ficava de olho em Mariazinha filha do vaqueiro, e papai de olho em mim, era uma grande festa. Na manhã do dia seguinte à fogueira ainda queimava, e a meninada pulando as cinzas.

O tempo passou, a cidade cresceu, minhas filhas e netos cresceram, mas, a lembrança da Noite de São João no Engenho Boa Vista permanece dentro de mim.

Felizes aqueles que de uma maneirar ou de outra podem recordar os bons momentos vividos.

 

 

 

 

 

 

Guga Coelho Leal – Engenheiro e escritor, membro do IHGRN

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