NEM SÓ DE TAINHA VIVE O VERANISTA –

O sol brilhante deitava seus raios sobre a praia de Pirangi do Norte e incentivava os pescadores a estenderem a rede de pesca nas águas tranquilas da maré baixa. Era mais um arrastão em busca dos cardumes de Tainhas, comuns na época do veraneio.

Admiro essa modalidade de pesca por três motivos: a solidariedade daqueles que seguram a corda para a ‘puxada’; a curiosidade sobre o que a rede arrastou e, o compartilhamento do quinhão de peixe para cada ajudante extra, afora a cota-parte de cada pescador ou da parte destinada às cooperativas.

No entanto, naquele dia, como a rede ainda estava sendo lançada, um jovem nativo caminhando em minha direção, ofereceu-me para comprar alguns peixes fresquinhos e não afins com o tipo comum naquela praia que é a Tainha. Em cada mão carregava cerca de quatro a seis peixes vermelhos, mais precisamente Ariacó, peixe da família do Pargo.

Pargo é a espécie predominante na região Norte, enquanto a guaiúba, cioba, ariacó e realito são predominantes nas pescarias das regiões Nordeste a Sudeste. No entanto, os três primeiros em toda a costa leste do Brasil.

De onde teria ele trazido aqueles ariacós? Pergunta feita, resposta dada: “- Peguei nas pedras lá depois dos parrachos, já em Tabatinga”.

– Então vou querer três quilos, escamados e tratados. E fui escolhendo: bote esse, esse e esse.

Daí então passei a perceber que ele não tinha nenhuma balança nem muito menos uma faca para o trato do peixe.

– Vou pesar ali nas barracas.

E fui seguindo seus passos para acompanhar a pesagem.

– Como vai tirar as escamas e tratar?

– Vou arranjar uma faca na barraca dos pescadores.

Outra caminhada até lá. Conseguida a faca emprestada foi logo advertido pelo pescador: “vá tratar na beira mar para não sujar a praia. E mais uma caminhada.

Trata um, trata outro e enquanto vai concluindo vamos conversando e tirando algumas conclusões sobre o tal peixe e de onde o jovem era, já que os pescadores não o conheciam como daquelas cercanias.

Apurei que ele era de Tabatinga (praia vizinha) e com a pesca nas pedras, naquele dia, conseguiu alguns peixes e resolveu vendê-los em Pirangi. Muitos veranistas que caminhavam pela praia paravam e perguntavam o preço. Quando indagavam pela balança e pela retirada das escamas e vísceras, desistiam.

Bem, os que eu comprei finalmente estavam pesados e tratados. Porém tinha um detalhe: eu não estava com dinheiro ali, pois encontrava-me na missão da caminhada matinal.

– Agora você vai comigo até onde deixei o carro para receber o dinheiro.

– Vamos! Disse satisfeito.

Peixe pago.

– Qual o seu nome?

– Samuel.

Toda essa história me fez refletir sobre três fatores: 1) A idade do Samuel e a sua falta de planejamento para vender o peixe (literalmente) que conseguira numa pescaria amadora e solitária; 2) A voluntariedade e a persistência em oferecer o peixe sem os utensílios necessários para tal mister; 3) A certeza que mesmo assim venderia seus peixes e voltaria para casa com algum recurso para ajudar nas despesas da família.

Aconselhei-o a providenciar uma bolsa (sacola) com uma faca e uma balança portátil para alavancar as suas vendas.

Ele olhou para mim e disse: “- O senhor foi muito bom comigo”. E partiu.

O Ariacó foi frito e saboreado, ao lado da minha amada, na varanda que me acolhe no Parrachos de Pirangi.

A reflexão continuava: O que Deus quis me dizer através desse simples evento?

 

 

 

 

 

 

 

Carlos Alberto Josuá Costa – Engenheiro Civil, escritor e Membro da Academia Macaibense de Letras ([email protected])

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