NÃO DEIXE O VELHO ENTRAR –

Certa vez, o ator e diretor Clint Eastwood, na véspera de completar 88 anos de idade, enquanto se preparava para uma disputa de golfe com Toby Keith, cantor e compositor de músicas country, foi questionado pelo amigo acerca do que planejava fazer naquela idade, e ouviu como resposta: “Começarei a gravar um filme na próxima semana!”. Impressionado, Toby quis saber a razão para tanta motivação naquela idade. Clint respondeu que todas as manhãs, ao se levantar da cama, ele não “deixava o velho entrar”.

Clint Eastwood, estadunidense da Califórnia, nascido em 31 de maio de 1930 (92 anos), protagonizou uma longa carreira cinematográfica atuando e dirigindo sem dar espaço para a aposentadoria. Ano passado, em 2021,lançou mais uma película, Cry Macho, com ele no papel principal. Tudo isso porque teima em “não deixar o velho entrar”.

Subentende-se “não deixar o velho entrar” como uma forma de não sucumbir aos efeitos da decrepitude mantendo o corpo ativo e a mente alerta; louvando cada amanhecer como uma premiação especial pela jornada vencida em cada dia e brindando o pôr do sol com um sorriso no rosto; lutando contra o desânimo, o comodismo, a preguiça e contra as adversidades decorrentes do peso dos anos vividos.

“Não deixar o velho entrar” é não se preocupar tanto com a vida dos filhos, pois você lhes doou as ferramentas para o enfrentamento da sobrevivência diária; é dar valor àquelas amizades de datas pretéritas; é conhecer melhor seus limites físicos e mentais; é ser menos egoísta e mais compassivo; é compreender, aceitar e amar cada membro de sua família com todas as diferenças e limitações. A minha maior referência para “não deixar o velho entrar” eu a tenho no meu irmão Severino Marques, 73 anos, há seis convivendo com a esclerose lateral amiotrófica numa luta sem trincheiras para não ser domado pelos efeitos deletérios da doença e, mesmo assim, afirmando: “Eu sou feliz por estar entre vocês!”.

Sim, “não deixar o velho entrar” é também acreditar que não estamos aqui por acaso como pregava Epicuro na sua doutrina de vida. “Não deixar o velho entrar” é não sentir inveja, é admirar o raiar de um novo dia e praticar a mais difícil de todas as atitudes da existência do ser humano: saber perdoar.

Nem todos dentre nós comungarão da mesma filosofia de vida de Clint Eastwood, de “não deixar o velho entrar”, e replicarão afirmando: “É fácil praticar tudo isso com a barriga cheia e o cofre abarrotado de grana!” Verdade! Porém, existem muitos com o mesmo potencial financeiro do ator americano, que tornam as suas vidas miseráveis por falta de sentido no existir.

Dar sentido a existência é, no meu entendimento, a melhor maneira de “não deixar a velho entrar” até o instante que se torne inevitável tal presença, pois o que não tem remédio remediado está. Enquanto isso vou mandando aquele abraço para os meus amigos de infância, de faculdade e de trabalho.

Abraço esse extensivo aos amigos eventuais que se tornaram grandes amigos-irmãos e trilharam e ainda trilham comigo bons e tristes momentos. Aos entes queridos que integram a minha família, que suportaram os percalços e festejaram as vitórias de nossa existência. A todos, apenas um recado: “Não deixem o velho entrar!”

 

 

 

 

 

José Narcelio Marques Sousa – Engenheiro civil

As opiniões contidas nos artigos/crônicas são de responsabilidade dos colaboradores

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *