MUDANÇA DE HÁBITOS –

Aposentada e viúva, Maria Rosa se habituou a ir com sua filha, todas as manhãs, à academia, e à tarde, dia sim, outro também, ao rodízio de shoppings. Depois do jantar, adotou o hábito de escrever no computador, ate meia noite, ou até o sono chegar.

Nos finais de semana, ela e algumas amigas, quase todas aposentadas, independentes e descasadas pela lei de Deus (viúvas), ou pela lei dos homens, não perdiam as danças da AABB, onde é sócia. Vez por outra, pintava alguma festa fora da AABB, e lá iam as “andorinhas” se divertir. Se não tivessem par para dançar, a animação era a mesma, pois elas dançavam mesmo sozinhas e soltas. O importante era a descontração. Todas elas, filhos criados e bem resolvidas, levavam uma vida de dar inveja às mulheres mal casadas, que arrastam casamentos desastrosos, apenas por conveniência.

De repente, não mais que de repente, no começo de 2020, a TV anunciou, em rede nacional, que um terrível vírus letal, o Covid-19, assomara às portas do Brasil, vindo do estrangeiro, e já estava fazendo vítimas.

Ainda bem que o Dr. Dráuzio Varela, no programa do Faustão, tranquilizou a população, opinando que o vírus que estava invadindo o Brasil seria apenas “uma gripezinha”.

Ledo engano. O Covid-19 terraplanou a população e, em poucos meses, ceifou milhares de vida, causando sofrimento e dor às famílias brasileiras.

O terrível vírus já se alastrara pelo mundo inteiro, e a luta pela cura, travada pela ciência, não obtinha êxito, nos casos avançados.

E deu-se o pânico. Medidas sanitárias alertavam a população, a fim de conter a disseminação do Covid-19. Tornou-se obrigatório o distanciamento social, o uso de máscaras, a higienização das mãos com sabão ou álcool em gel, e, por fim, o fechamento de academias, clubes, repartições públicas, templos religiosos, e do comércio formal, incluindo shoppings, restaurantes e bares, e o informal, como camelôs, vendedores ambulantes, inclusive pipoqueiros e vendedores de cachorro-quente, que alimentam a família com o apurado do dia.

Isso enlouqueceu a população. Quem tinha a cabeça boa, passou a sofrer de depressão. Quem já tinha depressão, destrambelhou, e piorou de vez. Nunca se procurou tanto terapeuta, e nunca se tomou tanto antidepressivo no Brasil. Também nunca se tomou tanta Ivermectina e Cloroquina, como tratamento precoce.

E a Ciência entrou em campo, em busca de uma vacina contra o Covid-19.

A imprensa funerária, nos noticiários, informava, com ênfase, o número crescente, diário, de mortos pelo Covid-19, aumentando cada vez mais o terror da população. As crises de pânico aumentaram, resultando, inclusive, em casos de suicídios.

A partir do mês de março de 2021, com a chegada das vacinas contra o Covid-19, a população sã foi convocada a se vacinar. A imunização ainda não se completou, mas o poder público está se esforçando para que todos os brasileiros estejam vacinados até o final do ano.

O Covid-19 ainda continua ceifando vidas e os hospitais continuam cheios. Porém, com a vacinação, o povo criou alma nova. E a luta continua. Abriram-se “as portas da esperança.”

E as viúvas e descasadas, confinadas em casa por quase dois anos, que antes da pandemia saíam sempre, para espantar o fantasma da solidão, continuam sem perspectiva do “alvará de soltura.”

Mesmo já vacinadas, ainda continuam usando máscaras, e evitando aglomerações. Aguardam, ansiosas, que os tempos mudem e o lazer volte a existir, com a liberdade e segurança de antes. E que o fantasma do Covid-19 fique, apenas, como mais uma tragédia, na história da humanidade.

O distanciamento social, imposto pelas autoridades sanitárias, deixou traumas que perdurarão durante muito tempo.

E a “mídia funerária” continua aterrorizando a população, pois a vacina não garante a imunidade 100%.

Cada qual se defende como pode.

Esta semana, Maria Rosa, que é louca por música, deu um “lance de mestre”. Para espantar o estresse, comprou uma sanfona nova e bem mais leve do que a sua antiga e encostada, de 120 baixos, já “velhinha”. A distração de Maria Rosa, agora, é tocar sanfona, que voltou a ser o seu xodó, sem desprezar o teclado.

Pelo menos, ela se distrai, preenche o tempo e esquece a vontade de sair de casa, até que termine a vacinação em Natal. As festas da AABB ainda não recomeçaram. E o remédio é esperar.

Afinal, a música é o alimento da alma. Tocar um instrumento, melhora a vida interior.

Repetindo o Escritor Artur da Távola, pseudônimo de Paulo Alberto Moretzsonh Monteiro de Barros, música é vida interior, e quem tem vida interior jamais padecerá de solidão.

 

 

 

 

Violante Pimentel – Escritora

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