MOACYR, O ARQUITETO –

No dia 5 de maio próximo passado, eu e meu filho Carlos Valério, fomos dar o último adeus a Moacyr Gomes da Costa, o renomado arquiteto potiguar, pranteando a sua morte junto a familiares e muitos de seus amigos presentes ao velório.

A lembrança de Moacyr Gomes permanecerá por toda Natal nas obras projetadas por ele, isoladamente ou em associação com outros colegas de profissão. E aí se catalogam repartições públicas, edifícios de apartamentos, residências, centro administrativo e tantas outras investidas de contornos notáveis que, de certa forma, modernizaram a paisagem arquitetônica da capital.

De todas os projetos a ele atribuídos o mais festejado pelo natalense foi apelidado pelo governador Cortez Pereira, de o “Poema de Concreto”. Tratava-se do Estádio João Machado Filho (Machadão), inaugurado em 1972 e demolido em 2011, quase 40 anos depois, para dar lugar à praça de esportes denominada Arena das Dunas.

Outra arrojada obra do arquiteto mantém-se estável para a admiração de seus conterrâneos e deslumbre de quem visita a nossa cidade, quando se deparam com a estrutura considerada o maior balanço em concreto protendido da América do Sul. Refiro-me ao “Pórtico Monumental de Natal” ou “Pórtico dos Reis Magos”, postado na BR-101, na divisa com o município de Parnamirim, na principal via de acesso à capital.

Li, numa recente postagem de Carlos de Mirando Gomes, nas redes sociais, rápidas pinceladas acerca da trajetória de vida do seu irmão, Moacyr, onde relata algumas de suas mágoas dentre as quais assistir à demolição do Machadão e “ter de deixar a cátedra da Faculdade de Engenharia”.

No meu livro, “História da Escola de Engenharia da UFRN”, eu faço referência a decepção de Moacyr por abandonar a disciplina Construção Civil e Arquitetura, que lhe fora ofertada pela direção da Escola, a qual lecionou por apenas um semestre, enquanto se regularizava o seu vínculo funcional. Resultou de a reitoria rejeitar a indicação porquanto o arquiteto estar em litígio com a universidade.

No depoimento que me concedeu Moacyr durante a concepção do livro, aqui transcrito na íntegra, denota-se a sua grandeza de espírito, o vínculo entre si e seus pupilos no pouco tempo de cátedra e a enorme preocupação em preservar a integridade física daquela turma de Engenharia, concluintes de 1967:

“Posto em xeque para escolher entre a cadeira e os meus direitos profissionais, optei pelos últimos. Para evitar que 16 jovens entrassem em greve devido a minha atitude, numa época muito conturbada do regime militar, propus-me a publicar uma carta aberta expondo as razões da renúncia em jornais do Rio Grande do Norte e, se desejassem, de outros Estados. Fiquei comovido e gratificado pelo reconhecimento do trabalho que desenvolvi naqueles poucos meses na Escola, quando soube da escolha do meu nome para paraninfo da turma.”

Não fui aluno de Moacyr, porém, sempre o admirei como pessoa e pelo ineditismo estético de como concebia a arquitetura. No começo da pandemia da Covid-19, em comunicação telefônica, ele me falou da preocupação com fissuras encontradas na base do “Pórtico dos Reis Magos”, as quais poderiam comprometer a estrutura como um todo caso não fossem corrigidas. Eu me prontifiquei escrever sobre o assunto e publiquei, neste Ponto de Vista, o artigo “Santo de Casa…” (20/09/20). Não sei se a matéria serviu para chamar a atenção sobre o problema. Espero, que sim!

Descanse em paz, Moacyr!

 

 

 

 

 

 

 

José Narcelio Marques Sousa – Engenheiro Civil

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