Carlos Alberto Josuá Costa
“Vovô, conte aquela história do menino da chuteira de ouro!”
– Ele calçou a chuteira e fez um gol reluzente.
“E aí vovô?! Já terminou?”
Para quem está acostumado com histórias que vão desde “Era uma vez” até “E foram felizes por toda a eternidade”, decerto estranhará essa que contei para Lucas, com apenas 36 (trinta e seis) caracteres.
Observe, porém que nela está a síntese, o coração e o ápice de que tinha para contar.
Chamamos esse “gênero” de miniconto, ou microconto, ou nanoconto. É uma espécie de conto muito pequeno, que embora ainda não reconhecido pela teoria literária, vem ocupando seu espaço na produção associada ao minimalismo – movimento artístico, cultural e científico que faz uso de poucos elementos fundamentais como base de expressão.
O miniconto proporciona ao leitor a tarefa de “preencher” as elipses narrativas e entender a história por trás da história escrita.
Vim conhecer essa “gostosura” literária, por intermédio do amigo Sidney Norinho, ao me emprestar o livro “Os cem menores contos do século” onde nele, Marcelino Freire, em 2004, desafiou cem escritores a produzir contos com no máximo 50 letras.
O número de letras é importante, mas não rígido, sendo normalmente atribuído o limite de 150 caracteres (contando letras, espaços e pontuação), de modo a evidenciar as características de um microtexto:
Concisão – quanto menor o espaço, mais direta deve ser a narrativa.
Narratividade – feita dentro de uma ou duas funções e nem sempre com um desfecho conclusivo, deixando o leitor à vontade para preencher esses “espaços em branco” da narrativa conforme sua imaginação.
Totalidade – narrações inteiras subentendidas em pequenos contextos e ações que dependem da interpretação do leitor.
Empolgado resolvi aproveitar o incentivo da escritora e amiga Simone Rodrigues, ao me apresentar o “Recanto das Letras” (www.recantodasletras.com.br) para que lá pudesse dar conhecimento das minhas parcas inspirações.
Passei então a exercitar a memória e feliz da vida escrever minicontos, que reproduzo para vocês, quinze deles.
Vamos lá? É gostoso de ler!
Conto (01) – APRESSADO
Toc… Toc… Toc…
Abra, sou eu.
Não tenho esse tempo todo do mundo.
Conto (02) – LEILÃO
– O leilão foi bom?
– Foi ótimo!
– Por quê?
– O leiloeiro arrematou meu coração.
Conto (03) – TESTEMUNHA
– Jura contar a verdade?
– Sim.
– Então conte.
– 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7…
Conto (04) – PAUSA
– Finalmente cheguei!
– Calma, aí é apenas uma vírgula, falta chegar ao ponto final.
Conto (05) – ESTRELA
– Cadê?
– Passou. Era Cadente.
Conto (06) – RAPIDINHA
– Gostou?
– Não deu tempo.