MEU CARRO, MINHA VIDA – 

Tenho certeza de que outras pessoas já enfrentaram situações com as quais eu próprio também me deparei. Ocorrências desagradáveis ocorridas no dia a dia do trânsito de Natal e, decerto, de todo o Brasil, fazem parte da vida de quem precisa dirigir seu carro nas suas atividades diárias. Um problema bastante sério é o da deselegância e a má educação cívica nas relações entre as diversas categorias de motoristas, demonstrando que nem todos têm aptidão psicológica e social para conduzir um automóvel. Alguns amigos já me ouviram relatar as experiências pelas quais passei, na minha vida de diligente cumpridor das normas do trânsito, tendo, por isso, sofrido incompreensões por parte daqueles que teimam em fazer exatamente o contrário. Por incrível que pareça, e pela minha experiência, estão entre os mais jovens os exemplos não de educação no trânsito, mas de respeito aos mais velhos, quando ocorre algum desentendimento nas ruas.

Porém, já sofri decepção com uma jovem, no estacionamento de um Shopping. Ao dirigir meu carro para uma vaga livre e reservada para idosos, um carro luxuoso, no sentido contrário ao meu, antecipou-se e estacionou no lugar. Me servi de uma vaga normal e tive tempo para falar com a jovem, bem vestida, elegante e talvez cheirosa mulher que “passou” a minha frente. Com bastante polidez, comentei que eu pretendia me utilizar daquela vaga. Ela olhou-me com desdém e respondeu: “Meu senhor, eu não estou nem aí pra isso!”. Nem precisava de tamanho desrespeito porque eu já me conformara com a situação, mas ficou a sensação de que algumas pessoas realmente não se incomodam e não se interessam pelos direitos dos outros.

Na ocupação das vagas em lugares públicos, é comum a indisciplina e a falta de respeito, mesmo que aquelas sejam marcadas e sinalizadas para orientação e melhor aproveitamento. Acredito que muitos acham que não são obrigadas a obedecer a determinações ou orientações, como se isso fosse uma afronta à sua personalidade, à sua habilidade, ou uma desconfiança da sua competência. No estacionamento de uma repartição pública, em Lagoa Nova, certa vez, tentei parar meu carro em vaga para visitantes. No espaço que me foi indicado pelo policial na entrada, estava parada uma caminhonete cabine dupla, ocupando o lugar destinado para três veículos. O vigilante me disse que não adiantaria reclamar, porque aquele carro era de uma pessoa importante, e protestar seria perda de tempo para mim e transtorno para ele. Entendi e fui estacionar em plena rua mesmo, consciente de que, se as “pessoas importantes” não têm educação e respeito, imaginem como não se comporta o cidadão “comum”.

Aguardo ansiosamente o dia e o tempo em que não precisarei mais dirigir um carro. Tenho feito experiências deixando o meu calhambeque 2008 em casa e só abraço o volante quando é estritamente necessário, ou quando se torna incômodo requisitar um taxi ou tomar um transporte coletivo. Mas sonho muito em livrar-me do estresse de dividir o espaço das pistas de rolamento com outros automóveis e com as pessoas que, ao volante, sentem-se dotadas de força e investidas de um poder que, normalmente, não poderiam exercer e experimentar. Ninguém poderia quantificar, porém tenho a impressão de que, em todo o Brasil, ou em Natal, por exemplo, a julgar pelo comportamento, pelo menos a metade dos que dirigem automóveis não têm o menor preparo cívico e psicológico para fazê-lo. O carro, que é, em última análise, apenas uma ferramenta, um acessório, um artifício, tornou-se a extensão do corpo e da mente daqueles que o tratam como se fosse parte integrante da sua própria vida.

 

 

 

 

 

Alberto da Hora – escritor, músico, cantor e regente de corais

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