LIÇÕES DE OVO –

É inimaginável o que um singelo ovo tem inspirado. O ovo é um alimento versátil e completo, supera tudo o que tenha mil e uma utilidades. Com ele fazemos doces e salgados, pães, bolos, massas e consumimos das mais diferentes formas. Mas ele é também fonte de inspiração das belas artes, o fazer artístico.

Culturas e civilizações acreditavam no “Ovo Cósmico”. Os antigos chegaram a acreditar que Deus era nascido de um ovo. O ovo de galinha também marca a sua presença na mitologia grega, latina e chinesa.

Na Idade Média e no Renascimento, havia dificuldades de corantes. A gema e a clara, misturadas com pigmentos, serviram de tinta para obras-mestras de Fra Angelico, Andrea Verrocchio, Domenico Ghirlandaio, entre outros.

Símbolo da vida são os ovos da Páscoa, os seus formatos têm, hoje, o gosto de chocolate.

Muitos intelectuais valem-se do formato ovoide para o seu trabalho. Salvador Dalí produziu dez pinturas de ovo. Achou pouco e doou à sua cidade de Figueres, na Espanha, o Teatro Museu do Ovo, que contém grande parte das suas obras. É todo decorado com figuras de ovos.

Tarsila do Amaral pintou o Urutu, o ovo da serpente entre os indígenas. Shakespeare revive Brutus em “Júlio César”. Para justificar seu assassinato, considerou o ovo de serpente, que se deve matar na casca. Ingmar Bergman identifica o nazismo no filme “O Ovo da Serpente”.

A empresa canadense Cirque du Soleil apresentou o espetáculo “Ovo”, com música em ritmos brasileiros: samba, bossa-nova, xaxado e até funk.

O tema é humorístico também. Luíz Gonzaga canta que a galinha pôs um ovo azul. O galo desconfiou e matou o pavão amante. Eu mesmo fiz uma musiquinha infantil dizendo que “A galinha a reclamar vivia / é muito chato / botar ovo todo dia”.

“A Galinha dos Ovos de Ouro”, o conto de Esopo, tem encantado muitas gerações.

O cordel nordestino relata a história do “Homem que Pôs um Ovo”. Ele queria testar a fidelidade e confidência de sua mulher. Arranjou um grande ovo de pata e, na cama, fingiu as dores do parto. De manhã, recomendou discrição à esposa. Ela jurou, mas logo contou à vizinha e a cidade passou a discutir o fenômeno.

O último Tzar da dinastia russa dos Romanov, que durou três séculos, encomendou ao joalheiro Fabergé, para presentear os parentes em cada páscoa, uma joia feita de metais nobres que fosse única, uma surpresa. Centenas desses objetos preciosos foram criados até que a revolução comunista matasse toda a família. Recentemente, um milionário russo adquiriu a maior coleção de Fabergé, para constituir um museu.

O ovo tem merecido na história o afeto humano.

 

 

 

 

Diogenes da Cunha Lima – Advogado, Poeta e Presidente da Academia de Letras do RN

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