DALTON MELO DE ANDRADE

Dalton Mello de Andrade

Estamos atravessando uma fase difícil, de uma seca brutal, ameaçando faltar água até para matar a sede (em alguns lugares já falta). Podemos responsabilizar grande parte dessas dificuldades à natureza. Mas, não podemos isentar os nossos dirigentes de uma boa parcela de incúria e incompetência. Felizmente, e assim é a vida, mais cedo ou mais tarde voltam as chuvas, mudam as autoridades, e a vida volta (mais ou menos) ao normal. Nesse quadro, temos que fazer um apelo, veemente. Que não falte água à lava-jato.

Lembro-me de meu pai, que dizia, olhando para a juventude ao seu redor (e devia me incluir nessa análise), “com esse povo que está aí, esse pais não tem futuro”. Anos seguidos, tenho me lembrado e repetido esse lamento. Não mais. Há um grupo de jovens, em todo o país, que querem transformá-lo numa nova pátria. Lutam para acabar com a tolerância do passado, especialmente buscando erros e agressões contra a sociedade e procurando punir os culpados.

Penitencio-me. A minha geração, e a logo em seguida, são as grandes culpadas. E estão no centro dos mal feitos. Os dirceus da vida são da geração seguinte à minha, mas os sarneys são da minha, e foram bons professores. Para nossa alegria, surge agora uma geração que parece não mais aceitar desmandos. A representam os jovens delegados da Polícia Federal, os do Ministério Público, os Juízes que, respondendo as reclamações e os anseios do povo, e com o apoio total desse mesmo povo, enfrentam os poderosos e os levam aos bancos dos réus.

Sempre fomos lenientes. Herança da nossa mistura? Talvez sim, um pouco. Essa comportamento vem da nossa colonização. O “fidalgo” tem muito a ver. Os privilégios das elites, os “donos da bola”, são muito responsáveis. Elites, aqui, no sentido restrito aos donos do poder, e não da que se sobressai na sociedade por sua competência e trabalho, como tentam hoje nos impingir. Não as que são ditas “as zelite branca e de oio azul”. Estas são as que trabalham e começam a corrigir nossos erros profundos.

Os portugueses nos deixaram, como é natural, coisas boas e coisas ruins. Desde que fui à Itália pela primeira vez, senti que, hoje, somos mais parecidos com os italianos. Eles chegaram depois, mas influenciaram mais. Como todas as influências, também nos trouxeram coisas boas e coisas ruins. Agora, adotamos “as mãos limpas” deles como um caminho para purificar nossos erros. Que consigamos, são os meus votos. E acho serem estes os votos de todos os brasileiros conscientes. E que não falte a água suficiente para uma limpeza profunda.

Dalton Mello de AndradeEx-secretário de Educação do RN

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