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A 22ª fase da Operação Lava Jato, deflagrada ontem, vai apurar a relação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) com um apartamento triplex na praia de Astúrias, em Guarujá, no litoral paulista, cuja opção de compra pertencia à mulher dele, Marisa Letícia, e hoje está em nome da empreiteira OAS. O objetivo da força-tarefa é descobrir se a OAS, acusada de envolvimento no esquema de corrupção na Petrobras, buscou beneficiar ilegalmente o ex-presidente por meio do imóvel. É a primeira vez que a operação investiga um negócio diretamente ligado a Lula e seus parentes.

A mulher de Lula adquiriu a opção de compra do imóvel em 2005 por meio da cooperativa habitacional Bancoop, a antiga titular do prédio. Em 2014, o triplex foi reformado pela OAS. Porém, em novembro de 2015, a assessoria de Lula informou que a família havia desistido de ficar com o imóvel, e iria pedir a devolução do dinheiro anteriormente aplicado.

O recuo ocorreu após as informações sobre o apartamento ganharem visibilidade na imprensa e a Lava Jato levar à prisão do ex-presidente da Bancoop e ex-tesoureiro do PT João Vaccari Neto e de executivos da OAS. A Promotoria colheu depoimentos de engenheiros e funcionários do condomínio apontando que familiares de Lula estiveram no triplex durante as fases de construção e reforma do imóvel. As visitas envolveram medidas para esconder a presença da família no condomínio.

Ao anunciar a operação, a força-tarefa da Lava Jato não citou Lula em nenhum momento e informou de forma genérica que todos os apartamentos do condomínio onde fica o triplex serão investigados para apurar se a OAS cedeu unidades do empreendimento para pagar propinas ligadas ao esquema de corrupção na Petrobras. O prédio não foi alvo de busca e apreensão nesta quarta-feira.

Indagado se Lula era alvo da operação, o procurador da República Carlos Fernando Lima afirmou: “Nós investigamos fatos. Se houve um apartamento dele, que esteja no seu nome ou que ele tenha negociado ou alguém da sua família, vamos investigar, como todo mundo”. A relação de Lula com o triplex também é investigada pelo Ministério Público de São Paulo. O promotor de Justiça Cassio Conserino já anunciou ter obtido indícios suficientes para denunciar Lula pelo crime de lavagem de dinheiro em inquérito sobre o imóvel. Entre os apartamentos sob investigação, 10 estão em nome da OAS e um está registrado em nome da offshore Murray Holdings, sediada no Panamá.

Os procuradores disseram que chegaram ao condomínio porque um dos imóveis era de propriedade da Murray, uma offshore aberta pela Mossack Fonseca, empresa internacional com escritório em São Paulo. “Acreditamos que eram abertas contas no exterior, para esquema de lavagem de dinheiro”, diz o procurador Lima. Com base nessa apuração, o juiz Sergio Moro decretou a prisão temporária (válida por cinco dias) da publicitária Nelci Warken, suspeita de ser uma das operadoras do esquema que envolveu a offshore, de parentes dela e pessoas ligadas a uma firma responsável pela abertura da Murray.

O advogado do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Cristiano Zanin Martins, afirmou que a decisão do juiz Sergio Moro não faz nenhuma referência ao petista. Ele afirmou também que Lula e sua mulher, Marisa Letícia, possuíam uma cota do empreendimento, mas decidiram resgatá-la quando ele foi transferido para a OAS. O advogado da OAS, Edward Carvalho, criticou a condução dos mandatos. Em nota, a Bancoop afirmou que por deliberação coletiva dos respectivos cooperados, “o empreendimento foi transferido à construtora OAS Empreendimentos”.

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