“Passas sem ter teu vigia/ Catando  a poesia que entornas no chão” –  Chico Buarque

Despertado e movido pelo sentimento de saudade e pela genialidade daqueles jovens que partiram cedo deste mundo: lembrados, lidos, ouvidos, declamados e reconhecidamente considerados  como imortais, inesquecíveis. Jovens compositores, cantores, poetas  que, de forma surpreendente, nos deixaram muito cedo; com uma peculiaridade muito reflexiva: no momento que atingiram seus apogeus, suas independências profissionais  e financeiras, momento ímpar e de glória na  vida de cada um. Muitos, na maioria pobres, de família humilde, que depois de atravessarem mares revoltos e de grandes tempestades, de cruzarem estradas perigosas e arredias, são ceifados do nosso meio, do nosso mundo, de maneira surpreendente e arrebatadora.

Vejamos alguns deles:

Noel de Medeiros RosaNoel Rosa (1910-1937). Uma das maiores expressões da música brasileira: sambista, compositor, cantor, bandolinista e violonista. Teve uma importância fundamental na identificação e na propagação do samba no território brasileiro, principalmente na cidade do Rio de Janeiro. Foi autor de verdadeiras pérolas musicais, como: “Último desejo” (1937), “Pierrô apaixonado” (1935), “Conversa de botequim” (1935) e centenas de outras preciosidades que tanto enriquecem o amplo acervo musical brasileiro.

Trocou os estudos da Medicina pelo aprendizado do samba e dos instrumentos musicais. Fez parte do Bando dos Tangarás (1929), ao lado de João de Barro (Braguinha), Almirante, Alvinho e Henrique Brito ( potiguar). Teve com seu rival, o reconhecido compositor Wilson Batista, grandes e  envolventes polêmicas musicais –  quando gravou alguns dos seus grandes sucessos: “Feitiço da Vila” e “Palpite infeliz” – com  lucros e dividendos para a música popular brasileira.

Faleceu aos 26 anos de tuberculose pulmonar, em sua residência, no bairro de Vila Izabel. Não deixou filhos. Seu corpo encontra-se sepultado no Cemitério do Caju na cidade do Rio de Janeiro.

     “Morre hoje sem foguete

     Sem retrato

     Sem bilhete

     Sem luar, sem violão”

    Da canção: Último desejo.

Adiléia Silva da Rocha – Dolores Duran (1930-1959 – Rio de Janeiro/RJ). Cantora, compositora de origem pobre e modesta. Desde criança, gostava de cantar e sonhava em ser famosa. Aos oito anos, contraiu uma febre reumática, que lhe deixou sequela cardíaca.

Empolgada e influenciada pelos  amigos e com o sonho pessoal de ser cantora, inscreveu-se no programa de calouros de Ary Barroso, conquistando  o primeiro lugar, – o que lhe abriu o caminho para sua brilhante e rica carreira como cantora e compositora. Autora de belas páginas musicais, como: “A noite do meu bem”, “Fim de caso”, “A fia de Chico Brito”, em parceria com Chico Anysio. Em 1955, sofreu um infarto agudo do miocárdio, quando passou trinta dias internada no Hospital Miguel Couto/RJ.

Teve uma vida matrimonial muito tumultuada e irregular. Não consegui ter filhos, o que a fez decidir pela adoção de uma filha. No ano de 1959, após um cansativo show, ao chegar em casa, e, como de costume, após brincar com a filhinha, fala para sua auxiliar, Rita: “Não me acorde. Estou muito cansada. Vou dormir até morrer!”, disse brincando, e sorriu no momento”. No quarto, não se sabe bem a hora exata, sofreu o segundo infarto, dessa vez, fulminante, com apenas 29 anos de idade. Encontra-se sepultada no Cemitério do Caju, no Rio de Janeiro/RJ.

     “Ah! Como este bem demorou a chegar

     Eu já nem sei se terei no olhar           

     Toda ternura que quero lhe dar”                 

    Da canção:  A noite do meu bem

Maysa Figueira Monjardim Matarazzo– Maysa Matarazzo (São Paulo, 1936 – Niterói/RJ,1977). Cantora e compositora que encantou o Brasil com sua voz romântica e sensual. De uma postura impecável no palco, com interpretações dramáticas  e sentimentais. Seus lindos olhos cobriam e refletiam na plateia a magia de um céu azul deslumbrante de verão.

Foi a grande intérprete de Dolores Duran em suas belas canções, como: “A noite do meu bem”. Como compositora criou belas canções, como: “Meu mundo caiu”, “Tarde triste” e “Ouça”, seu grande sucesso. Teve uma vida muito tumultuada e cheia de problemas pessoais e profissionais, de temperamento agressivo e autoritário, sempre envolvida com a mistura  de álcool e de anfetaminas. Faleceu no auge da sua carreira artística/musical, aos 41 anos, vítima de acidente automobilístico, na Ponte Rio- Niterói.

    “Ouça, vá viver a sua vida com outro bem    

     Que hoje eu já cansei                               

    De pra você não ser ninguém”

    Da canção: Ouça

Elis Regina de Carvalho Costa – Elis Regina (1945-1982). Gaúcha de Porto Alegre/RS, começou a cantar aos onze anos de idade na Rádio Farroupilha. Em 1964, já se apresentava no eixo Rio-Sao Paulo, cantando no programa “Noite de Gala”, na TV Rio. Participou no de 1965 como estreante no festival da Record, interpretando a música ” Arrastão” de Edu Lobo e Vinicius de Moraes. Ganhadora dos prêmios Berimbau de Ouro e do troféu Roquette Pinto, como a melhor cantora do ano.

Faleceu com apenas 36 anos, em São Paulo, no dia 19 de janeiro de 1982, decorrente do uso excessivo de cocaína e álcool.

           “É de sonho e de pó

           O destino de um só

           Feito eu perdido em pensamentos

           Sobre o meu cavalo

           É de laço e de nó

           De gibeira o jiló

           Dessa vida cumprida a sol”

          Da sua mais bela interpretação –  canção: Romaria

Berilo de Castro – Médico, escritor, membro do IHGRN  – [email protected]

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