JOÃO E MARIA –

Década de 50, as coisas corriam normalmente, em uma certa tranquilidade. Uma paz reinante no velho engenho em São José de Mipibu. Época de férias o velho Jorge, dono de um engenho de moagem de cana, costumava levar os netos, para passar as férias escolares em seu engenho e foi exatamente nesta época que começa a nossa história.

Manhã de sol, a meninada correndo e brincando na bagaceira, depois de tomarem leite cru, direto do peito da vaca, todos com a idade média de dez anos, em brincadeiras infantis. Entre as crianças estavam João e Maria que mal se falavam, apenas na hora da brincadeira.

 Com a morte do velho Jorge, as viagens ao engenho diminuíram e sete anos depois, João com dezessete anos, vai só até o velho engenho, e fica sozinho na casa grande –  A viagem era feita de trem até a estação de São José, e o capataz mandava um cavalo para a ida até o engenho. João armou sua rede no terraço, e começou a pensar no tempo de seu avô, e com as brincadeiras na bagaceira, e dos amigos e primos que lá brincavam. Acorda com o chamado da cozinheira   para almoçar, mas, antes tomou um banho frio de cuia no banheiro da casa, que tinha chuveiro, mas desde criança gostava do banho de cuia, com água tirada diretamente de um grande tanque que ficava no banheiro. As quatro horas da tarde, João levanta-se e vai sentar-se na calçada em frente à casa grande onde ficava sempre para ver a passagem do gado de volta para o curral. Lá para cinco horas da tarde, ele ouve o grito dos vaqueiros aboiando o gado, vira-se um pouco e vê o gado se aproximando do curral que ficava perto da casa grande.

Entre os gritos dos vaqueiros ele ouve uma voz feminina. Curioso, começa a observar a dona daquela voz. Para sua surpresa aparece um lindo rosto moreno, com um chapéu de vaqueiro, ornamentando aquele belo rosto sustentado por um corpo escultural. Ela para, olha para ele e o cumprimenta tirando o chapéu e segurando as rédeas do cavalo com uma mão só – boa tarde moço. Lembra-se de mim? Não, respondeu João. Eu sou Maria filha de Vicente o vaqueiro! Ela desce do cavalo e os dois se abraçam, conversam um pouco, e ela diz que está estudando em Natal, pois pretende estudar medicina e ele diz que vai para Recife estudar engenharia. Neste papo acertam dar uma volta de cavalo, para o dia seguinte, embora ele afirme que não anda a cavalo há algum tempo. Na manhã do dia seguinte ambos vão a cocheira, selam seus cavalos e vão cavalgar, percorrendo a fazenda até o seu final onde tinha uma vista muito bonita da planície que formava a propriedade, admiraram um pouco a vista e relembraram o passado. Passado algum tempo e vendo se preparando para chover, e como a descida do morro era íngreme João chamou Maria para irem embora. Apostaram uma corrida até a porteira mais próxima. João perdeu, e quando chegou ela deu uma sonora gargalhada dizendo – O senhorzinho está desacostumado!

Na volta, com as nuvens “carregadas” passando, resolveram descansar em uma árvore as margens do Rio Trairi. Enquanto conversavam, se olharam profundamente e se beijaram, nascendo neste momento o namoro, depois noivado e casamento. Foram felizes ou são felizes e meus bons amigos até os dias de hoje, eu era uns dos meninos da bagaceira.

“Entrou por uma perna de pinto e saiu por uma perna de pato. Seu rei mandou dizer que você contasse quatro”.

 

 

 

 

 

Guga Coelho Leal – Engenheiro e escritor, membro do IHGRN

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