JESUALDO O EMPREENDEDOR –

Em minha infância e início de juventude, residi no bairro do Farol, onde moravam inúmeras crianças, inclusive Jesualdo, que por ser um pouco mais velho, era líder de todos, principalmente quando se tratava de assuntos que ainda não conhecíamos na prática.

Hoje eu o definiria como verdadeiro empreendedor, visto sua facilidade em materializar sonhos de terceiros, mesmo que riscos houvessem, mas em troca, ganhava algum trocado.

Naquela época, nossa turma dominava toda a região do Parque Gonçalves Ledo e adjacências. Sabíamos que algo difícil, desejado pelos “pivetes”, era só falar com “Jesú”, verdadeiro farol de inspiração, e ele conseguia.

Certo dia, início da noite, Jesualdo reuniu os meninos e apresentou uma proposta arrojada. Disse ele: – turma, estou com uma garota que pode tirar a roupa para vocês olharem só de longe. Mas se quiserem, tem que pagar dez cruzeiros cada um, por uma espiada de meia hora.

Todos ficaram loucos de vontade, mas devido à pouca idade, não possuíamos tal quantia. Sem dizer o motivo verdadeiro a nossos pais e avós, rapidamente conseguimos a cifra desejada.

No dia combinado, emoção a mil, ele nos levou para as escadarias da Ladeira do Cortiço, por trás do Colégio Sacramento, local tão iluminado quanto deserto. O acerto era entregarmos a grana, e depois de todos posicionados dez degraus abaixo de onde a garota estava, ela, pelada, rebolaria para nos enlouquecer, durante o tempo acertado.

Foi realmente uma festa. Jesualdo apresentou a muitos a primeira mulher nua, que para surpresa de todos, era “chef de cozinha” da casa de um dos animados e tensos presentes.

  Sempre sob a batuta do líder e benemérito, aquele momento inesquecível representou importante passo rumo a labirintos desconhecidos, onde mesmo sem bussola tomávamos decisões ousadas e enquanto todos sonhavam em completar quinze anos, para experimentar algo mais concreto, Jesualdo foi fazendo o seu pé de meia…

Nosso benemérito era um tipo de empreendedor que nos levava a caminhar por lugares desconhecidos, e mesmo sem bussola a tomar decisões nunca antes ousadas.

Enquanto todos sonhavam em completar quinze anos, Jesualdo foi fazendo o seu pé de meia…

 

 

 

Alberto Rostand Lanverly – Presidente da Academia Alagoana de Letras

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