AB C_A_Josua-Costa-150x150

Carlos Alberto Josuá Costa

Antemildo Batista de Andrade estava no aeroporto me esperando. Lá estávamos para participar do 1° Congresso Mundial de Engenharia de Avaliações.

Passada as formalidades iniciais: fez boa viagem? Quer ir direto para o hotel? Bem, naquele momento fui grato ao amigo que me recepcionou e cuidou para tudo sair a contento.

No hotel, na Av. São João, ainda na portaria, a pergunta de uma missão: sabe onde encontro uma loja para comprar o disco (LP) de “Itamar Assumpção e Banda Isca de Polícia”? Resposta seca: Não. Olhei para Antemildo e fui logo dizendo: recebi uma encomenda de comprar este disco para um amigo. Escrito num papel com a letra de Carlos Linhares Rebouças estava o título do tal disco confirmado.

– Calma amigo. Nos intervalos do curso e congresso pesquisaremos nas lojas. Afinal aqui em São Paulo tem tudo.

Mas, quem é esse tal de Itamar Assumpção? “Compositor, cantor, instrumentista, arranjador e produtor musical brasileiro, que se destacou na cena independente e alternativa de São Paulo nos anos 70-80 do século XX, movimento que se convencionou chamar de Vanguarda Paulista. A Vanguarda Paulista reuniu artistas que decidiram romper o controle das gravadoras sobre a produção e lançamento de novos talentos nos anos finais da Época das Trevas Modernas – anos anteriores a Internet. Os representantes desse movimento eram artistas que produziam e lançavam seus trabalhos independentemente das grandes gravadoras. Criavam suas próprias microempresas e gerenciavam a si mesmos. Itamar Assumpção era nome frequente na lista de shows do Teatro Lira Paulistana em Pinheiros, palco que foi denominador comum a todos os membros da Vanguarda Paulista – todos os representantes do movimento invariavelmente por ali passaram. A Banda Isca de Polícia foi criada em 1979 por Itamar Assumpção, para acompanhá-lo em discos e shows.”

O ano de 1981 foi significativo, por ter-se dado os primeiros passos organizados para a disseminação das avaliações e perícias de engenharia no Rio Grande do Norte. Naquela oportunidade grandes nomes despontavam no cenário nacional e nossa cidade contava com seu impulsionador e idealizador maior, o engenheiro eletricista Dr. José Tarcísio Augusto de Amorim. Outros nomes potiguares foram surgindo agregando-se ao ideal deste, entre os quais o engenheiro civil Mário Duarte da Costa, o engenheiro agrônomo Mário Varela Amorim e outros que somaram esforços para a criação do INEAP – Instituto Norteriograndense de Engenharia de Avaliações e Perícias, hoje IBAPE/RN – Instituto Brasileiro de Avaliações e Perícias de Engenharia. A esses associamo-nos (Antemildo e eu) contribuindo para uma nova forma científica de valorização deste ramo da engenharia. Daí então porque estávamos em São Paulo, a grande metrópole.

Mas voltemos a Itamar Assumpção.

Dadas as primeiras buscas sem sucesso, e obsecados em atender ao pedido de Carlinhos Linhares, resolvemos ampliar o campo de pesquisa visitando outros bairros periféricos. No congresso recebemos um vale metrô (cortesia do prefeito Paulo Maluf aos congressistas) que facilitou nosso deslocamento nesta perseguição ao objetivo.

Ainda não existia GPS. Mas Antemildo sempre atenado com as novas tecnologias da época, adquiriu um manual contendo ruas, avenidas, praças, estações de metrô, trens e outros meios de transportes.

Siga-me! E lá íamos explorando cada “buraco” atrás deste bendito LP.

Entramos numa loja grandiosa, discos e mais discos, o que nos animou a perguntar: tem o LP de Itamar Assumpção e Banda Isca de Polícia? Tem. Um frenesi de emoções tomou conta de nosso corpo e mente. Lá vinha o rapaz com o LP. Quando nos mostrou, achamos diferente, pois o título não constava o nome do artista e sim a denominação: Dobrados – Polícia do Estado de São Paulo. Obrigado amigo. Seguimos perambulando e conhecendo a capital paulista. Mais uma vez. E mais outra. E uma mais. Tem…? Aguarde um minutinho. Aqui está: Banda da Polícia Militar de São Paulo. Obrigado. Voltamos para o hotel.

Aproximava-se o fim do congresso, mas continuávamos irmanados na causa. Mais um dia e nada. Mais outro e nada. Sempre os “dobrados”. Ufa! Recuamos. Chegou o dia de voltar para a terrinha. Na portaria do hotel com a conta já paga, fomos indagados: “E aí, gostaram de São Paulo?”. Gostamos, mas estamos decepcionados por não conseguir comprar o disco de Itamar Assumpção e Banda Isca de Polícia. Resposta imediata: ali naquela galeria. É só atravessar a avenida. Num último suspiro assim fizemos. Na galeria (logo ali, em frente ao Hotel, só atravessar) várias lojas de LP’s. Tem o disco de…? Quantos querem? A relíquia, o ouro em pó, a arca da aliança, ouro, mirra e incenso. Antemildo olhou para mim e eu para ele. Caímos na risada. Pronto, a encomenda estava comprada. O LP de Carlinhos estava ali em nossas mãos.

Ainda hoje quando nos telefonamos, dizemos: É Itamar Assumpção? E a resposta: É a Banda Isca de Polícia?

Graças a essa encomenda ‘sacrificosa’ conhecemos uma fração da capital e arredores paulista.

Atualmente, quando vou viajar e Carlinhos Linhares começa a dizer “Josuá dá para você…” faço de conta que tenho aparelho contra surdez faltando a bateria.

Carlos Alberto Josuá Costa – Escritor, Engenheiro Civil e Consultor ([email protected])

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *