CARLOS ALBERTO JOSUÁ COSTA

Carlos Alberto Josuá Costa

O mundo estava se modernizando numa velocidade mais rápida que depressa. As películas de filmes de cinema foram dando lugar aos acetinados das fitas VHS e posteriormente aos DVDs. Nas locadoras, os primeiros títulos copiados ou originais estavam nas prateleiras para realizar o sonho do ‘cinema em casa’.

Não perdi tempo. Fui a Manaus e, na zona franca, adquiri um aparelho de “vídeo cassette recorder NV- G9, National, a new generation”.

Todos os finais de semana alugava as fitas VHS e numa expectativa alucinante assistia filme após filme. Era um barato!

A locadora predileta era (e ainda é) a Vídeo Laser, de Da. Fátima, ali na Av. Prudente de Morais.

Rodolfo ajudava a Da. Fátima a dar informações do tipo: “chegou filme novo: ‘Veludo Azul’, ‘Dersu Uzala’”. E desfilava os títulos mais recentes, da época.

No sábado, chegava logo cedo, para disputar as novidades.

Levando três, devolve na terça-feira: uma das promoções existente à época.

Eu sempre percebi a falta de criatividade nas locadoras, de modo a facilitar a vida dos “casacinéfilos”. Tipo: “alugue, assista e dê a sua nota. Se o filme que você assistiu tiver, no final do mês, o maior número de indicações, ganhe um aluguel grátis”.

Ou ainda, verificando estatisticamente quais as fitas com pouca saída, e fazer um pacote com um lançamento e dois “encalhados” por duas diárias ao preço de uma.

Bom, mas eu não era dono de locadora.

Cabia a mim, encontrar-me com outros “fanáticos” e trocar informações sobre tais e quais filmes. Fazíamos uma sinopse ao vivo. E quem era bom nisso era meu amigo Tácito José Brandão Suassuna. Não tinha errada: indicou, gostou!

Mesmo assim ainda não era suficiente para que eu ficasse satisfeito. Eu também queria indicar filmes. Era o máximo!

Então ficava consultando fita a fita do estoque e, com o canto do olho vasculhando quem se dirigia às prateleiras para escolher aquelas que desejavam assistir.

De mansinho e discretamente pegava uma fita e tascava: “Já viu este?”. “Muito bom!”. “Conta a história de…”. E ainda tinha a petulância: “Você vai gostar!”.

Não sei se por minha bondade ou para se livrar logo de mim, me davam como resposta: “Obrigado, vou levar”. Juntava às já escolhidas, dando-me a certeza que tive sucesso na indicação.  Dizer que meu ego ia lá ao alto do farol de Mãe Luiza, não era demais. E já ficava na “observa” de outro cliente, não meu, de Da. Fátima.

Dava um giro entre os expositores e de repente reencontrava com “aquele ou aquela” que tinha ‘abraçado’ a fita e surgia um sorriso de canto de boca. Aí é que eu ficava feliz: além de aceitar minha opinião me “abraçava” em seu coração.

Mas, de repente, não mais que de repente, eu observava que sutilmente o “cliente” devolvia a fita indicada para a prateleira. Ou então na hora de levar deixava no balcão.

Que tristeza! Era um desprezo descabível.

Isso não pode ficar assim!

Tenho que repensar minha estratégia de convencimento. Afinal na minha atividade profissional era comum utilizar tais argumentos para mostrar ao cliente, o beneficio que o produto ou o serviço lhe proporcionava. Nada de engano.

Passei a semana “matutando”.

Cueca! Ou melhor: Eureka!

Lá estava eu de novo no rastreamento para fazer indicações: “Veja este, tem muita ação e emoção”.  (Ei! Você que está aí lendo, prestou atenção ao novo argumento?).

 “Ótimo, vou levar”. E adicionava aos já escolhidos. Agora sim! Mas que nada (como diz a música de Jorge Ben Jor)! Lá a fita era rejeitada.

Reformei imediatamente a abordagem. Tinha que ser “aqui e agora”. Não dava tempo ir para casa repensar. Seria desgastante. Então uma ”lâmpada” acendeu no topo de minha cabeleira: “Leve este filme. Se não gostar eu pago a diária”.

De lá, dava uma olhada em direção ao balcão, atitude essa que ratificava o compromisso de assumir o prejuízo caso o cliente não gostasse.

Ledo engano! “Esse eu já assisti. Realmente é muito bom”. E decepcionado devolvia ao lugar de onde tirei.

Criei vergonha e nunca mais fiz indicações (se não me pedem). Foi tanto o desprezo!

Agora eu alugo os filmes, preparo um lanche, abro um vinho tinto reserva ‘Viu Manet’, convido amigos interessados (não percebi ainda se no vinho ou no filme) e corro para o abraço. Sim. Os comentários só ao final.

Tudo mudou, não temos mais fitas VHS e sim DVDs e os modernos, os Blu-ray’s.

 A locadora Vídeo Laser, ainda existe e continua sendo a melhor de Natal. Aliás, as outras não aguentaram a “peste” dos piratas e os telecines repetitivos.

A propósito, você já assistiu “A Lenda do Pianista do Mar”, ou “A Camareira do Titanic”, ou “Nathalie X” ou “As Cinco Pessoas que Você Encontra no Céu”, ou “As Invasões Bárbaras”, ou “O Mundo de Sofia”, ou “Nunca Te Vi Sempre te Amei”, ou “As Pontes de Madison”, ou ainda “Balzac e a Costureirinha Chinesa”?

Não? Indicar não indico, apenas insinuo.

Estou sem tempo de ficar fiscalizando se você devolve à prateleira.

Carlos Alberto Josuá Costa – Engenheiro Civil e Consultor ([email protected])

As opiniões contidas nos artigos são de responsabilidade dos colaboradores

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