NARCELIO

 José Narcelio Marques Sousa

Hoje abordarei um tema leve e agradável que decorre do não fazer nada. Isso mesmo, a ociosidade. No idioma italiano a inatividade preguiçosa é expressa como il dolce far niente ou “a doçura de não fazer nada” – que fique claro, eu procuro discorrer sobre a inatividade preguiçosa, e não da preguiça doentia.

Trata-se de poder usufruir do prazer da mais despreocupada desocupação sem culpa ou arrependimento. Saber desfrutar do ócio com direito à preguiça como resultado de uma conquista merecida. Il dolce far niente sem constrangimento nem receio de rótulos depreciativos daqueles que qualificam a doce ociosidade como sinônimo de apatia ou inação.

Nós brasileiros estabelecemos esse prazer somente durante o gozo de férias que, comumente, coincide com o recesso escolar da criançada. Mas, nem sempre esses momentos representam o prazer de não fazer nada. Pelo contrário, termina como uma tarefa ampla que nada tem a ver com il dolce far niente.

A primeira medida para entrar no clima do prazer de não fazer nada é limpar a mente das obrigações. Aí sim, você estará credenciado a vivenciar agradáveis momentos de deleite, de apaziguamento e de contemplação da natureza – por que não? Inicie ouvindo uma música. Não qualquer música, mas aquela que lhe traga recordações de algo ou de alguém. Folhei um livro ou uma revista, nem que seja apenas para ver deslizar velozmente suas páginas pressionadas pelo polegar.

Sentiu aproximar-se a monotonia? Saia de casa e procure um lugar tranquilo, de preferência um parque, um bosque, um local que o aproxime do mundo natural, selvagem, primitivo – preservemos o Bosque dos Namorados, por favor!

Quede-se a nos observar. Sim, a nós, seus semelhantes! Deleite-se com as brincadeiras e a agilidade de uma criança, e lembre-se que você já foi e já fez aquilo. Observe a dificuldade de caminhar de um ancião e imagine-se chegando àquela idade. Respire a vida.

Cansou do verde e das sombras das árvores? Não seja por isso! Procure o mar. Não é difícil encontrar a praia ideal para il dolce far niente nos 400 quilômetros de litoral do Estado. Curta o sol, a brisa marinha, chute a areia, e quando se cansar desses agrados ao corpo procure um alpendre, improvise armadores e deixe o tempo escoar ao balanço de uma rede. Mas, se o mar não for a sua praia, dê um mergulho numa piscina, tire o peso da carcaça e curta o boiar de olhos fechados sem dar margem a qualquer pensamento.

Ah! Existe também a opção de um banho de espuma, como na música de Rita Lee. Um corpo caliente num dolce far niente sem culpa nenhuma, fazendo massagem com água e sabão, relaxando a tensão em plena vagabundagem com toda disposição. São diversificadas as alternativas para um dolce far niente ao gosto de cada um. O importante é entrar no clima, sem reprovações na consciência de estar cometendo alguma falta por não fazer nada.

É nisso que reside a doce ociosidade, um relaxamento indulgente repleto de pura preguiça e bem-aventurança. Afinal, a vida é como um passeio numa montanha-russa: cheia de altos e baixos se esvaindo sem termos o controle da velocidade. Dolce far niente para você também!

José Narcelio Marques Sousa é engenheiro civil[email protected]

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