GUARDANDO AS MÁSCARAS –

 

O carnaval passou…

Para refletir sobre as máscaras, é preciso uma pergunta: Pra que serve uma máscara?

A máscara é utilizada para cobrir o rosto nos diversos momentos, tais como, nos eventos do carnaval, religiosos, artísticos ou de proteção. A palavra tem origem no árabe maskharah = “palhaço”, “homem disfarçado”.  As tribos africanas usam máscaras em cerimônias de passagem entre a vida e a morte.

A máscara é um dos mais simbólicos elementos de linguagem teatral, remontando à representação de cabeça de animais em rituais primitivos, ressaltando misterioso poder.

Às vezes a máscara passa a se tornar um símbolo de caráter enganoso. Ela não esconde somente a identidade, mas transforma a vida de quem a utiliza.

 Nas festas de Dionísio, todos bebiam, cantavam, dançavam e usavam máscaras, por acreditar que Dionísio estaria ali presente.  A máscara tanto esconde como libera o caráter de quem a utiliza.

Quando tiramos a máscara, parece que ela fica impregnada de “comportamentos” que em nenhuma hipótese seriam praticados sem elas.

Pitty, em sua música ‘Máscara’, canta: “Tira, a máscara que cobre o seu rosto/ Se mostre e eu descubro se eu gosto / Do seu verdadeiro jeito de ser”.

Consciente ou não, já ao amanhecer, ainda na cama, a “gaveta” é vasculhada em busca da ‘máscara’ a usar nesse dia.  Mas, ela pode não ser suficiente para o dia todo e, então, algumas, são colocadas numa ‘maleta’ e conforme a conveniência vai se revezando.

É preciso ter muito cuidado no uso da máscara, porque de tanto usar, acaba esquecendo quem você é.

Esse fingimento, que parece tão informal – ao usar uma das máscaras -, esconde a realidade de não ser o que se é. E isso atrai outro mascarado, que também fora do seu ‘eu’ verdadeiro, se aproxima pelas mesmas debilidades.

Ao não enxergarem a sua humanidade, os outros não podem aceitar você como tal. Isso afasta aquele que realmente não era seu amigo, e sim, da máscara.

As máscaras nem sempre estão apenas na face oculta da “personalidade”. Elas se adaptam muito bem nas roupas, nos falares, nos sapatos, nas maquiagens, nos adornos, enfim em tudo que possa modificar, pouco ou muito, aquela “fotografia” do momento.

Quem está do outro lado pode não enxergar exatamente a que você se propõe.

 A máscara da ‘retidão’ pode transparecer a do ‘desespero’.

 A da tristeza pode refletir a da ‘ansiedade’.

A do ‘prazer’ pode fazer parceria com a do ‘fingimento’.

A da ‘aceitação’ pode estar de mão dada com a da ‘submissão’.

A da ‘alegria’ pode estar reluzindo a da ‘euforia’.

A do ‘ócio’ pode se confundir com a da ‘preguiça’.

 Seja como se apresentem as máscaras, certamente não refletem o lado verdadeiro e desconhecido da própria personalidade.

As máscaras podem nos fazer entender parte da natureza humana, através das facetas que permeiam entre o “aparente” e o “oculto”, a saber:

O aparente do aparente, diz respeito ao óbvio e do concreto: “Sou assim mesmo”.

O oculto do aparente, diz respeito à própria consciência.  O aparente encontra-se encoberto não sendo percebido de imediato: “Como é que não percebemos antes”?

O aparente do oculto, diz respeito ao mundo menos diferenciado. Inconsciente. Esquecimento e lembrança parece ser uma única experiência: “Não sou como você pensa”!

O oculto do oculto, diz respeito à falta de espaço para a razão. Mesmo assim é acessível ao ser humano, através da ação: “Estou percebendo e aprendendo a mudar meu comportamento”.

Portanto será uma boa experiência sermos nós mesmos. Certamente iremos gostar e, quem sabe, guardar as máscaras por um tempo maior.

O carnaval da vida continua… Apenas com um pouco mais de seriedade.

“A mesma máscara negra / que esconde o teu rosto / Eu quero matar a saudade…”.

 

Carlos Alberto Josuá Costa – Engenheiro Civil e Membro da Academia Macaibense de Letras ([email protected])

As opiniões contidas nos artigos são de responsabilidade dos colaboradores

 

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