AB JANSEN LEIROS 2

Jansen Leiros*

Alguns orientais que residem no setentrião do planeta têm o saudável hábito de criarem cães de guarda ou companhia e outros pequenos animais de estimação. Isto porquê, sabem da amizade que a maioria dos animais domésticos dedica aos Seres que os criam, que os alimentam, que repassam carinho e cuidados especiais, como se fossem seus próprios filhos.

Digo orientais porque são Seres portadores de muita sensibilidade e algumas modificações implantadas em sua contextura biológica, entre as quais, asseveram os biólogos, a troca e funcionalidade dos lóbulos cerebrais, encontra-se evidente.

A rapidez com o uso da mente, sua força, sua concentração e a habilidade para realização das coisas minúsculas, com uma eficiência quase impecável.  Assim, são os orientais!

Certa vez, viajando à Viena, encontrei num “bistrot”, próximo a uma praça nas cercanias do Palácio de Sisi – a imperatriz, um senhor, octogenário na aparência, cabelos brancos, algo sorridente, que sentara num dos bancos públicos para ler um jornal, acompanhado de um cão de pelos alvos, como a neve, olhos azuis.

O cão era belíssimo, tranqüilo, e parecia sociável, pois que, na medida  em que eu andava, me acompanhava com o olhar, como me conhecesse.  Abanou a calda duas ou três vezes. O senhor aproximou-se de mim e foi ai que prestei melhor atenção àquela figura humana, portadora de simpatia incomum e bastante carismático em sua simplicidade.

Caminhei em sua direção e o cumprimentei em inglês, pois ele estava lendo um jornal naquele idioma.  Para minha surpresa, ele me respondeu em português e foi dizendo calmamente:

– “Quando jovem, morei no Brasil! Em São Paulo, especificamente! Meus pais eram japoneses e fugiram da guerra! Vieram para a América do Sul, onde a guerra não se havia instalado. Grande parte de minha família foi morta em Hiroxima! No Brasil, passei a estudar química e depois, como pós graduação escolhi botânica, com especialização em plantas exóticas, a fim de conhecer a flora brasileira.  Vivi no Brasil vinte e três anos.  Casei com uma nisei que se chamava Kinuê.  Não tivemos filhos e ela morreu vítima de um assalto, em Osasco. 

– Dois anos depois, voltei para o Japão!Embrenhei-me nas matas nipônicas e fui fazer estudos comparativos na flora japonesa e nessa atividade vivi por muitos anos, até hoje.

-Vivendo na floresta, passei a atuar como guia florestal e foi então que passei a criar este cão.  Ele é um cão mestiço de duas raças puras. Seu pai era um Samoieda, alvíssimo  e sua mãe, uma Akitá, campeã em algumas exposições.  De fato, ele é fruto de uma gravidez indesejada, mas quis a natureza que este animal reunisse as boas qualidades das duas raças, por essa razão o considero o melhor cão do mundo. (e sorriu gostosamente). Ele tem sido meu companheiro permanente, constante, dedicado, valente e silente, pois nem sequer late, exceto em ocasiões muito especiais, quando parece falar comigo! Ele está comigo desde que o separei da ninhada

– Mas, me permita que me apresente! Eu me chamo Yoshito e meu guia espiritual, na intimidade, me chama de Makoto, pois diz que sou muito bondoso. Eu é que digo que é bondade dele me chamar assim. Ai sim!  Meu cão chama-se Atsushi, pois para mim ele é o Sol da Manhã! É ele quem me faz acordar quando o Sol vem nascendo.

– Bem! Agora vamos ao importante desta história, que não é uma estória de Trancoso! De fato, nosso encontro já estava programado, com o objetivo de você, que meu guia me revelou ser um militante da doutrina espírita, para divulgar entre os adeptos do Cristo, a importância da gratidão.  Ou chamá-lo de “Makoto San”, pois é bondade que o amigo irradia em seu entorno.  Sua Luz parece uma chama trina. Uma mistura do Verde, Azul e Rosa.

 – Desculpe-me, falo muito! Mas meu guia pediu-me para repassar a história de Atsushi para que o senhor a transmita aos adeptos do Brasil, ensinando aos seus semelhantes o que é a gratidão.

 – Pois bem!  Certo dia, Sai para dar umas andadas pela floresta, quando sobreveio um terrível temporal, logo em seguida, a neve soterrou os caminhos da montanha.  Passamos perdidos cerca de uma semana. O pior é que me distanciei de Atsushi e já o tinha como morto.  Caçadores sobreviventes, uma semana mais tarde, descobriram meu cão desfalecido, mas vivo, e o alimentaram. Identificando-o com a etiqueta metálica que ora conduz, logo me encontraram e foram levá-lo para os cuidados que estava a merecer.

– Um ano se passou e nova tormenta assolou nossa floresta na subida da montanha.  Eu e Atsushi saímos para nossas buscas de costume em tais situações e, de repente, Atsushi deu seu uivo de alerta e saiu correndo como um doido. Entre duas árvores gigantes ele parou e começou uma incansável escavação. Duas horas depois, ele me chamou com dois uivos – sinal de haver encontrado algo com vida.  Era o homem que, um ano antes, o havia salvo. Era o salvador de Atsashi que quase enlouqueceu de alegria!

– Quando nos cumprimentamos, o caçador foi-me dizendo:

– Amigo!  A GRATIDÃO ME SALVOU!   Eis-me aqui com vida!”

Agora, me cabe repassar esta história, multiplicando-a!  A GRATIDÃO precisa ser conhecida!  Aceita!  Acaricia-la em seu íntimo e praticá-la.  Somente assim, o homem vai aprender o que é esse sentimento que, graças a DEUS, já existe nos animais valorosos como o cão.  Namasthê!

*Jansen LeirosEscritor e membro do IHGRN

 

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