VALÉRIO MESQUITA 1

Valério Mesquita*

Lembro-me velório do acadêmico Grácio Barbalhoonde havia pouco número de pessoas que lhe foram dá o último adeus. Da Academia, apenas um terço dos imortais compareceram. São José de Mipibu, terra natal do médico e acadêmico, ignorou-o completamente. Se fosse de Mossoró, falanges de mossoroenses encheriam todos os compartimentos da Casa de Câmara Cascudo.

Autoridades principais dos órgãos representativos do Estado e do Município de Natal não os vi, exceto o presidente da câmara municipal. Enfim, apenas médicos, amigos, intelectuais e admiradores do mestre Grácio compareceram. Mas, a vida é assim mesmo. Quem passa de 60 ou 70 anos torna-se estatística. O nome, a importância do que fez em vida desaparece. É a cidade que perde a memória e o sentimento.

Mas, deixemos os queixumes prá lá porque Grácio Guerreiro Barbalho, é maior que os ausentes. Ele que foi em vida um homem solidário, disponível, calmo e silente. Não tinha pressa de viver. Nem com o tempo. Agora não me recordo se usava relógio. Grácio era pontual e presente onde os amigos estivessem. Era uma característica sua prestigiar os amigos. E muitos faltaram ao seu último encontro.

Pesquisador e colecionador de discos e fatos da música popular brasileira, a discoteca de Grácio tornou-se referencia nacional e já foi visitada por musicistas, compositores, cantores e estudiosos do Brasil inteiro. Simples e até humilde, não buscava os refletores da propaganda ou do elogio fácil. Era parcimonioso  e consciente do acervo que detinha porque é patrimônio da cidade de Natal e do Rio Grande do Norte. O mérito paciente e pedagógico de estudo e de coleção é todo seu.

Não tenho a menor dúvida que Grácio esteja sendo recebido no céu pelos maiorais do nosso eterno samba, agradecendo-lhe o muito que fez em favor da MPB. E dá prá imaginar daqui Silvio Caldas, Orlando Silva, Chico Alves, Dircinha e Linda Batista, Ataulfo Alves, Cartola, Elizethe Cardoso, Assis Valente, Carmem Miranda, Ary Barroso, Herivelton Marins, Dalva de Oliveira, João de Barros, Luiz Gonzaga e tantos outros que povoaram com canções os dias e as noites do velho pesquisador.

“Nunca vi Grácio apressado ou afobado!”. Disse-me um colega nosso do Conselho Estadual de Cultura onde cumpriu quase quinze anos de mandato. Respondi-lhe brincando que ele não tinha sistema nervoso. E rodava a sua vida em sentido contrário aos seus discos apressados de 78 rotações. Devagar, com um sorriso de sábio nos lábios, cumprimentava os amigos como um sacerdote suspendendo as mãos em bênçãos profusas. Ney Marinho e Raimundo Lacerda Cavalcante, seus amigos de boemia e uísques imemoriais irão recebê-lo. Foram amizades fieis aqui na terra e agora nas muitas moradas celestiais. Dos seus amigos da Academia, do Conselho de Cultura e do Instituto Histórico restará a saudade inconsolável porque Grácio Guerreiro Barbalho cumpriu a sua missão com a medicina e a cultura e nós, vamos, agora, fazer a nossa parte. Não esquecê-lo e batalhar para que o seu acervo permaneça à disposição dos estudiosos e pesquisadores.

(*)Valério MesquitaEscritor e Presidente do IHGRN – [email protected]

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