GIGOLÔ –

Gigolô, vocábulo de etimologia francesa, é uma antiga denominação, atribuída a homens, que vivem às custas de mulheres, independentes financeiramente, ou sustentadas por maridos ricos ou amantes. Aceitam presentes caros e dinheiro dessas mulheres, e, em contrapartida, lhes prestam favores de alcova. Geralmente, são homens jovens e bem-apessoados; inimigos do trabalho, com invejável desempenho sexual, enquanto as mulheres exploradas são sempre mais velhas.

Pois bem. Décadas atrás, no tempo em que havia ingenuidade, Georgina, esposa de um desembargador, comentava com duas amigas, que com ela lanchavam no terraço de sua casa, um artigo de uma revista, que focalizava a figura do “gigolô”, vocábulo, na época, considerado indecente.

Muito desbocada, Georgina dizia que não via razão, para a palavra gigolô ser considerada obscena e vulgar. Afinal, gigolô era o masculino de “gigolete”, um nome muito usado em cadelas, ou em outros animais do sexo feminino. Nunca fora considerado palavrão. Por sinal, em alguns lugares do Brasil, “gigolete” era o nome dado a tiaras ou diademas, ornamentos usados nas cabeças femininas.”

Na verdade, nada de bom se podia dizer da expressão “gigolô”. Esse vocábulo, de conotação escrachada, era considerado grosseiro, até mesmo em conversas entre pessoas amigas. Provocava um arrepio na alma de quem o ouvia.
O papo de Georgina, acerca da figura do “gigolô”, não agradou ao Dr. Nestor, marido de Margarida, uma das suas amigas, que ali também se encontrava. O homem, muito moralista, não gostou da conversa irreverente da ilustre senhora.
Vendo que o amigo e dono da casa, Dr. Bento, permanecia impassível diante das conversas inconvenientes da esposa, Dr. Nestor não se conteve e perguntou a Georgina se ela sabia o significado de “gigolô”. Imaginava que ela estivesse falando por leviandade, sem saber o que estava dizendo.
A resposta da mulher veio rápida:

– Claro que sei! O senhor não sabe?!!!

E como quem estava lendo a ignorância estampada na fisionomia do Dr. Nestor, Conselheiro do Tribunal de Contas , a falante senhora explicou:

“Gigolô é o indivíduo, adorado por uma mulher, que tem outro homem que a ama, amante ou marido, sempre rico e mais velho. E é às custas deste, que vive o gigolô.

O gigolô é tratado pela mulher com todos os requintes da paixão. É para ele que ela reserva os melhores beijos, os melhores presentes e os maiores cuidados.

O marido, ou o amante, atende a todos os desejos materiais da mulher, cercando-a de conforto, luxo e muito dinheiro. Em troca, ela dá tudo do bom e do melhor ao gigolô, que é quem mais torce pela estabilidade do casamento da sua protetora. É ele o único a lucrar, com os amores e com o trabalho do cornudo.”

Dr. Nestor ficou escandalizado com o discurso de Georgina. Jamais havia imaginado que a esposa do desembargador tivesse a mente tão suja.
E ela ainda lhe perguntou, acintosamente:
-Compreendeu? E o que o senhor acha dessa profissão?

-Indigna!!! – respondeu Dr. Nestor.

Georgina protestou:

-Indigna, por que? O nosso País está cheio de gigolôs!!!
E continuou:

-Os políticos, de modo geral, são gigolôs, que mamam nas tetas da Nação, e assaltam o dinheiro público;
-Os empresários de companhias de arte são gigolôs de uma porção de artistas;

-Os magistrados, como uns que eu conheço, são gigolôs da Justiça;

-Um ministro não passa de um gigolô do governo;

-As maiores autoridades constituídas não passam de gigolôs da Nação;

-E o senhor, que é Conselheiro, também não passa de um gigolô do erário público!!!

Trêmulo de indignação diante de tamanho insulto, o Dr. Nestor retirou-se com a esposa, despedindo-se friamente do casal.

 

 

 

 

 

 

Violante Pimentel – Escritora

As opiniões contidas nos artigos/crônicas são de responsabilidade dos colaboradores

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *