GARGALHEIRAS –

Antes de inaugurada a Barragem Armando Ribeiro Gonçalves, situada no Vale Açu, o norte-rio-grandense festejava os anos de bons invernos no estado, deslumbrando-se com a sangria da Barragem Eurico Gaspar Dutra ou Barragem Marechal Dutra, também conhecida como Açude Gargalheiras ou, para os nativos da região, simplesmente, Gargalheiras.

Além de ser o manancial mais importante da Região Seridó, o Gargalheiras, situado no município de Acari e distando 210 quilômetros da capital Natal, para quem ainda não sabe, foi considerado Patrimônio Histórico do Rio Grande do Norte em 21 de janeiro de 2023 e hoje é um dos polos turísticos do estado.

Localiza-se na bacia hidrográfica do Rio Piranhas-Açu com capacidade de armazenamento de 44 milhões de metros cúbicos. O açude foi inaugurado oficialmente no dia 27 de abril de 1959 e se tornou um dos pontos turísticos mais conhecidos e visitados da região do Seridó. As obras começaram em 1921, no governo do Presidente Epitácio Pessoa, durante a titularidade de Joaquim Ferreira Chaves no Rio Grande do Norte.

Segundo relato do repórter da A República, Manoel de Brito, em entrevista para a Tribuna do Norte, quando cobria a visita do presidente Eurico Gaspar Dutra, ao nosso estado, em 1949, ouviu do bispo de Natal, Dom Marcolino Dantas, o seguinte pedido: “Presidente, mande construir o Gargalheiras para quando houver um inverno as águas gargalharem.”

Gargalheiras é o plural de gargalheira, qual a motivação para se dar tal nome ao açude? Não se sabe ao certo. Gargalheiras são os grilhões ou coleiras de ferro ou madeira com as quais se prendiam os escravos uns aos outros ou os mantinham sob castigo na escravatura. Se for o caso, qual a relação de tal objeto com o açude para ser nominado Gargalheiras? Outra hipótese alude-se aos gargalos dos boqueirões ali existentes. Tudo especulação.

Nem sempre o panorama do açude foi pinçado pela beleza das cheias e das sangrias. Em 2014, após 55 anos de construído, o reservatório atingiu o menor volume de água. Isso mesmo, acumulava apenas 8% de sua capacidade, pouco mais que 3,5 milhões de metros cúbicos.

O açude Gargalheiras é um símbolo para o Rio Grande do Norte. Atualmente é o quarto maior reservatório do estado e abastece as cidades de Currais Novos e Acari. A verdade é que o panorama do Gargalheiras se modifica a cada ano dependendo ser período de chuva ou seca. Nas longas estiagens é uma tristeza ver paisagem bastante diferente da época de um bom inverno, quando todos se focam na sangria da barragem criando a beleza do “véu de noiva”.

Segundo dados contidos na Prefeitura de Acari o Gargalheiras sangrou 29 vezes ao longo dos 65 de sua existência. Tudo leva a crer que neste mês de abril de 2024, haja vista o volume de água acumulado diante das últimas chuvas caídas na região, o acariense, o seridoense e o potiguar na sua totalidade se deleitarão com a 30ª sangria do Gargalheiras, a terceira das Sete Maravilhas do Rio Grande do Norte, antes da publicação deste texto.

 

 

 

 

José Narcelio Marques Sousa – Engenheiro civil

As opiniões contidas nos artigos/crônicas são de responsabilidade dos colaboradores

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *