NARCELIO

José Narcelio Marques Sousa

Ninguém atentou para o detalhe, mas, neste ano de 2015 são passados exatos 50 anos da decretação do fim da Bossa Nova, o movimento mais influente da história da música popular brasileira.

Aquele novo modo de interpretar canções, aliado a uma batida diferente de violão extraindo sonoridade atípica, surgiu em Agosto de 1958 com o compacto simples do violonista baiano João Gilberto. Trazia numa das faces a música Chega de Saudade (Vinícius de Moraes e Tom Jobim) e, na outra, Bim Bom, de autoria do próprio compositor e intérprete.

O estilo insosso de cantar baixinho em tom coloquial, com letras abordando temas leves, no entendimento de críticos consistia em modismo passageiro e sem futuro. Na crista dessa nova onda embarcaram Carlos Lyra, Ronaldo Bôscoli, Sylvia Telles, Nara Leão, Roberto Menescal, Luiz Eça e outros. A música Garota de Ipanema, de Tom e Vinícius, lançada em 1962 alavancou, internacionalmente, o novo maneirismo musical brasileiro.

Ironicamente, Vinícius de Moraes, um dos pilares da Bossa Nova, lançaria também a música determinante do fim do movimento. Ele e Edu Lobo compuseram, em 1965, Arrastão. Era o fim da Bossa Nova e o começo da nova tendência interpretativa: a MPB. A nova onda musical se consolidou com Disparada e a Banda, de autoria, respectivamente, de Geraldo Vandré e Chico Buarque.

A Bossa Nova era uma coisa leve. Segundo Nara Leão, “enquanto nas músicas da época, prevaleciam letras dramáticas, a Bossa Nova veio com aquele negócio do amor, sorriso, flor, sol, céu…”. Foi-se a Bossa Nova, mas ficaram músicas inesquecíveis como Samba de uma Nota Só, Lobo Bobo, Dindi, O Barquinho, Desafinado e Insensatez. Acabou-se o movimento, mas escaparam as lembranças do Beco das Garrafas, do Nick Bar e do Little Club. Findou uma época, mas preservamos a suavidade das vozes de Nara Leão, Sylvia Telles e Maysa Matarazzo.

Eu vivenciei o auge da Bossa Nova e estou a cavalheiro para comparar aquele estilo musical com a variedade de padrões sonoros da atualidade. Percebo a exata dimensão da pobreza musical que tomou conta do país. Não adianta citar nenhum deles porque faria injustiça à ruindade dos demais. Um gênero musical somente subsiste se encontrar eco e, para tanto, precisa de público receptivo.

Li comentário do jornalista Eduardo Guimarães afirmando que “depois do Samba, provavelmente, a Bossa Nova é o gênero que mais representa o Brasil no exterior quando se fala de música”. É verdade! Não foi pela simpatia nem pelos “belos olhos” de Tom Jobim que Frank Sinatra interpretou as canções dele.

Mas, chega de saudade, a realidade é que o mundo mudou e o gosto de alguns, também. Ainda bem que nos é dado o direito de escolher o que ouvir, sem deixarmos transformar nossos ouvidos em repositórios de anomalias musicais.

Esta é a razão de eu preferir ficar com um dia de luz, festa de sol, num barquinho pelo mar, que desliza sem parar, onde tudo é verão e o amor se faz em dias tão azuis. Falei!

Justa homenagem instituir 27 de Janeiro como o Dia Nacional da Bossa Nova. Ufa! É mais racional do que o Dia Nacional do Macarrão, criado ano passado para ser exaltado no dia 25 de Outubro.

José Narcelio Marques Sousa é engenheiro civil – [email protected]

Uma resposta

  1. Há alguns meses da morte do João Gilberto, ainda procuro um Tinhorão para assassinar a bossa nova. Creio que, para os que vão além, cairão no lugar comum – o jazz e a bossa nova. Entenderão o lirismo das músicas e entrarão de mergulho num Bethoven ou Tchaikovisky.

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