A FELICIDADE –
Josimar, um marceneiro pobre, de uma cidade do interior nordestino, trabalhava o dia todo, para sustentar a mulher e os seis filhos. Conformado com a pobreza em que vivia, o casal era muito feliz e a família harmoniosa.

À noite, todos se sentavam na calçada, e Josimar dedilhava a viola, herdada do pai, cantando repentes e improvisos. Exaltava a mulher e os filhos e lamentava a pobreza em que viviam. Mas, agradecia a Deus por ter filhos saudáveis e bonitos e uma mulher dedicada à família.

Na rua principal, morava Seu Santino, um fazendeiro muito rico, casado e pai de dois filhos, que sempre chamava Josimar para consertar e envernizar os móveis antigos de sua suntuosa casa. Com o tempo, o velho passou a admirar a honestidade do marceneiro e a observar a pobreza em que ele e sua família viviam. Josimar nunca o explorara e nunca lhe pedira dinheiro emprestado.

Era a época do Natal e Seu Santino resolveu dar um bom presente em dinheiro a Josimar, para ajudá-lo na educação dos filhos. Costumava fazer isso, esporadicamente, quando encontrava na sua frente uma pessoa honesta e trabalhadora. Na semana do Natal, mandou seu motorista entregar a Josimar uma maleta, embrulhada com papel de presente. Ao abrir a encomenda, o marceneiro ficou assustado com a quantidade de dinheiro que viu na sua frente. Esperava que fossem roupas usadas. Chamou a mulher para ver e ela ficou ainda mais assustada. Os dois se entreolharam, sem coragem de tocar no dinheiro. Puseram a maleta debaixo da cama, para depois resolver o que iriam fazer com aquele dinheiro fácil, para eles sem qualquer sabor.

Anoiteceu e a casa continuou em profundo silêncio. Naquela noite, as crianças sentiram falta do pai na calçada, tocando viola e fazendo repentes. Ninguém riu nem conversou. Josimar e Luzia estavam calados, sem assunto. No dia seguinte, a casa continuou em silêncio. As crianças foram brincar no terreiro, mas quando começaram a falar alto e correr, levaram gritos do pai que ameaçou lhes bater, se continuassem fazendo barulho. Nunca tinha acontecido isso antes. O filho mais velho, de 9 anos, percebeu a cara de choro da mãe e os olhos inchados. Houve um silêncio sepulcral e a família se entreolhou com olhos de pavor.

O marceneiro não teve coragem de contar o dinheiro. Sentiu dor de cabeça e medo de ser acusado de roubo. Também teve medo que um ladrão invadisse sua casa e levasse a maleta. Não sentiu mais vontade de admirar o céu, a lua e as estrelas, como sempre fazia. Não dedilhou mais a viola, nem versejou, como costumava fazer todas as noites.

Josimar estava vivendo as noites mais tristes da sua vida. Ele, a mulher e os filhos formavam um ninho de amor, e nada perturbava a paz que reinava naquela simples casa. Josimar ficou nervoso e ameaçou de bater nos filhos, porque estavam rindo alto e brincando. A mulher se voltou contra ele. O choro das crianças encheu a casa de tristeza.

Os pensamentos confusos do marceneiro, sobre o que poderia fazer com aquele dinheiro, não combinavam com os pensamentos da mulher. Os ânimos se acirraram e houve uma grande briga entre o casal, provocando grande choradeira entre os filhos.

Depois da terceira noite em claro, Josimar disse à mulher:

– O dinheiro tirou a alegria que havia aqui na nossa casa! Tirou a nossa paz! A melhor coisa que eu posso fazer é devolver esse presente. Vamos continuar com a nossa pobreza, mas com a nossa alegria!

Prefiro continuar caminhando com as minhas próprias pernas! Deus proverá!

A mulher foi com o marido devolver o presente ao fazendeiro, com mil pedidos de desculpas e agradecimentos. O casal voltou para casa, e a alegria da família voltou a reinar.

 

 

Violante Pimentel – Escritora

 

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