FALTOU NOMES DOS BOIS, NA AVENIDA –  

Escolas de samba poderosas – financiadas pela contravenção – e blocos de rua de todo quilate espalhados pelos quatro cantos do país deram seus gritos de guerra, no reinado de momo, bradando “contra tudo o que está aí”. A crítica a mais de uma década de “malfeitos” é válida. Mas, quando deixa de nominar os bois envolvidos, não só não se presta a melhorar o país, como pode ser usada como ferramenta partidária, cujo objetivo é dividir o país, em “nós e “eles”.

Carnaval é, por excelência, lugar da sátira e da brincadeira. Vindas daquela que é tida como “mais autêntica” manifestação popular, as críticas acabam sendo saudadas como se fossem a apoteose da Verdade. Nem sempre se justifica, contudo, e não estão imunes a serem utilizadas pelos interesses dos que muito mal fizeram aos brasileiros, e que foram descobertos.

Em alguns dos sambas-enredo mais celebrados deste ano, a corrupção foi tratada como geleia geral: lambuza a todos indistintamente. Será verdade?

Aqueles que protagonizaram os maiores escândalos da nossa história, flagrados e tirados do poder, devem ter adorado: o samba, esse nosso orgulho cultural, igualou a todos na lama.

É curioso, para dizer o mínimo, que o ápice da roubalheira flagrada nos anos recentes não tenha obtido das passarelas a mesma atenção que outros “malfeitos” mereceram neste ano. Não se tem notícia de enredo, samba ou marchinha de sucesso tratando da Lavajato, do mensalão, do petrolão, do tríplex à beira-mar, do sítio com torre de celular ao lado, das falcatruas com o orçamento federal, da quebradeira que se abateu sobre as contas públicas.

Mistificou, ao invés de esclarecer. As reformas necessárias foram igualadas a mazelas seculares, protestos legítimos foram caricaturados, heranças cartoriais foram retratadas como salvaguarda do povo.

A lambança tornou-se generalizada, como se todos nós estivéssemos nos locupletando (pode ir ao dicionário). Penso que os brasileiros devem manter e ampliar o espírito crítico, a inquietude e a capacidade de se indignar. Mas ela não pode ser meramente genérica, sorrateiramente indiscriminada.

 A crise, sem precedentes, tem responsáveis com nome e sobrenome, mas estes ficaram fora do enredo dos sambas que se ouviu pelo país.

Confesso que durante os governos do PT, fiquei surpreso. O que o PT fez pelos menos favorecidos foi elogiável, reconheço. A maioria dos brasileiros parecia feliz e Lula deixou o poder com 80% de aprovação.

Lamentavelmente, era apenas a aparência.

Havia uma quadrilha, organizada e chefiada por ele, agindo nas sombras para surrupiar as empresas públicas. O tumor maligno foi instalado e lentamente se infiltrou nos órgãos, transformando-se em metástase.

Dilma governou como uma destrambelhada, o que – ao lado da corrução organizada – acabou por levar o país à bancarrota e ao caos financeiro, político e social.

Apanhados em flagrante, a casa caiu, o financiador faliu e tudo o que haviam, em tese, feito em prol da sociedade perdeu-se no caminho. Perderam o respeito.

Por outro lado, o poder público, especialmente no patropi, tem se mostrado incapaz de enfrentar a violência, essa calamidade social. Pior que tudo isso, é constatar que a violência existe com a conivência de pessoas e grupos das polícias, representantes do Legislativo de todos os níveis e, inclusive, de autoridades do poder judiciário. A corrupção, uma das piores chagas brasileiras, está associada à violência, uma aumentando a outra, faces da mesma moeda. A lentidão da Justiça e a impunidade quase ensinam que “o crime compensa”.

O crime organizado atua na vacância do Estado, nas entranhas do poder público, e nas comunidades carentes de tudo. Age como fazem os guerrilheiros disfarçados, e conseguem estar em toda a parte e em lugar nenhum. Impossível derrotá-lo apenas com forças militares regulares. Há que se redesenhar o sistema!

Entendo que as causas da violência são associadas, em parte, a problemas sociais como miséria, fome, desemprego. Mas nem todos os tipos de criminalidade derivam das condições econômicas. Além disso, um Estado ineficiente e sem programas de políticas públicas de segurança, contribui para aumentar a sensação de injustiça e impunidade, que é, talvez, a principal causa da violência.

A violência se apresenta nas mais diversas configurações e pode ser caracterizada como violência contra a mulher, a criança, o idoso, violência sexual, política, violência psicológica, física, verbal, dentre outras.

Em um Estado democrático, a repressão controlada tem um papel crucial no controle da criminalidade. Porém, essa repressão controlada agora decretada no Rio de Janeiro deve ser apoiada e vigiada pela sociedade civil. Cá no meu canto, estou assuntando: quem está dando golpe em quem?

Rinaldo Barros é professor – [email protected]

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