ANA LUIZA

Ana Luíza Rabelo

            Às vezes, não poucas vezes, eu penso em Deus. Penso como nosso Criador e penso como Sua criatura. Penso na Sua bondade e na Sua brandura.

            Mesmo quando nos dá tarefas difíceis a cumprir, Ele também nos dá todas as ferramentas necessárias para realizá-las. Também nos dá forças, alimento, sentimentos e coragem para realizar as tarefas pré-determinadas.

            Penso nesse Deus como uma Luz, pois a minha religião ainda não me mostrou sua face, mas, ao mesmo tempo, penso no Deus que cresci imaginando sua distinta aparência: um velhinho de longas barbas, alvas vestes, um velhinho bondoso (acho que a mistura exata de papai Noel e meu amado avô Juarez). Um Deus bondoso, caridoso e repleto de amor.

            Penso nesse Deus que quer que todos se graduem. Que deseja que cada um dos seus filhos se forme na Universidade da Vida.

            Penso nos Seus desejos para nós, no Seu inesgotável amor. Nas tantas vezes que segurou a minha mão, mesmo quando sequer lembrava que estava lá, nas vezes em que Ele me colocou em Seus braços quando estava prestes a cair. Esse é o Deus que me fez, o Deus que eu conheço.

            É o Deus que, independente da linha que Lhe for dada para escrever, saberá escrever certo, reto. Ele saberá escrever as palavras certas, de acordo com o que cada um de nós precisa, para aquele momento ou para toda aquela vida. Ele escreverá de acordo com o tamanho da nossa necessidade e a profundidade de nossa dívida.

            Para mim, pessoalmente, esse Deus é muito palpável, é muito presente e consigo senti-lo a cada minuto, a cada passo que dou em Sua direção. O engraçado é que Ele ensina muita coisa, mas se pararmos para refletir ele nos ensina uma lição muito maior.

            Esse Deus é formado por paciência e amor (ambos adjetivos que graças a Ele possuí em abundancia na minha criação). Estes adjetivos são a prova de que fomos criados (cada um de nós) à sua imagem e semelhança.

            Porém, nós somos crianças rebeldes, mudamos a nossa própria fôrma e forma; como adolescentes, desafiamos o Pai até o limite de Sua paciência, sem lembrar que ela é uma gota no mar da infinidade.

            Nós, crianças sovinas, não aprendemos a lição de dividir o lanche, não aprendemos a não esticar o pé para o outro cair, não aprendemos a não ofender e, sobretudo, não aprendemos a fazer o que é certo com a prodigalidade (que cada filho é para seu Pai) que Ele espera de nós.

            Ainda assim, como eu disse, esse é um Deus brando, amoroso, feito de paz e de justiça. Ele é o Deus do equilíbrio, Ele é o Deus da paciência. E Ele dá a cada um de nós, seus filhos, o tempo necessário para que sejamos reprovados, para repetirmos de ano até o momento em que realmente aprenderemos o que for necessário.

            É um Deus brilhante (por isso é importante lembrar que realmente somos frutos de Sua imagem e semelhança, de Sua essência) e que, ao mesmo tempo em que nos dá o esquecimento necessário para vencermos, ele também nos dá lembranças. As empatias e antipatias, as alianças e os conflitos, os nossos medos e coragens, tudo isso faz parte do que nos foi ensinado e não será esquecido; pode ser alterado, mas jamais andaríamos para trás e ‘desaprenderíamos’. Ele também nos dá medo, instinto de sobrevivência e capacidade para nunca regredir. Toda experiência vivida faz parte de um aprendizado, de uma lembrança, de uma lição. Mesmo que não possamos recordá-las por inteiro, lá estão elas, para nos lembrar quem somos e para onde voltaremos.

            E os leitores podem até pensar: que Deus é esse que nem a autora sabe descrevê-lo? Que Deus estranho, que dá fome, infertilidade, vícios e doenças? Mas não foi Deus quem criou estas situações.

            Esse Deus a quem me refiro só nos dá amor e segunda(s) chance(s) para acertarmos. Esse Deus nos deu liberdade para escolher fazer o certo pela primeira vez ou fazer o errado, quantas forem as vezes que precisarmos para acertar.

            Esse Deus, cuja minha abissal ignorância é incapaz de conceber a sua forma, me vê de forma muito clara, sabe quem sou, o que fiz e o que mereço. Mesmo assim, Ele nunca castiga, nunca nos prende, nos bate. É Ele quem entende e apenas ensina, ensina, ensina…

            Algumas lições aprendemos através do amor; outras, através da dor. Mas isso também não é tarefa Ana Luíza Rabelo, advogada ([email protected])da escolha divina, essas são nossas escolhas, pois colhemos a mesma semente e o mesmo fruto de tudo o que cada um plantou.

            É muito complicado falar sobre alguém que eu sequer consigo imaginar a forma física, é muito difícil falar de alguém que nunca me apareceu, que nunca conversou comigo cara a cara e que nunca se fez presente de forma clara (será que a vida e a natureza não são claras suficientes?), mas o fato é que Ele sempre esteve lá, sempre segurando minhas mãos, sempre enxugando minhas lágrimas, me dando apoio, me dando forças, me dando fé. É um Deus incrível e por tantos motivos pequenos quase ninguém conhece.

            Não importa a religião, não importa o dogma que você trouxe na sua bagagem infantil. O que importa para Esse Deus é única e simplesmente o amor. O amor por si próprio, pois somos Seus semelhantes, e o amor pelo próximo, pois ele é tão semelhante quanto cada um de nós.

            E é por tudo isso que muitas vezes falo com Deus!

Ana Luíza Rabelo – Escritora e advogada – ([email protected])

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