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Pois é. Como podemos discriminar quem gosta desse tipo de música (se é que podemos considerar como tal). Não podemos. O universo da imaginação é livre assim como também é livre o poder da criação, como já dizia o mestre do samba João Nogueira.

Hoje, sem dúvida, a indústria fonográfica produz tantos “artistas” quantos forem os modismos que surgem. Lembro-me, na minha tenra idade, das músicas cantadas por Francisco e Ataulfo Alves, e Ângela Maria, Cauby Peixoto e tantos outros, que na sua maioria falavam de amor ou de situações de nosso cotidiano, sem, no entanto, explorar a sexualidade ou desvalorizar ambos os sexos. Havia, sobretudo, respeito a quem ouvia as músicas que podiam ser executadas em qualquer ambiente doméstico a qualquer hora.

O que diz então a Muriçoca? Que soca e que pica (no sentido pejorativo da palavra)

Digam-me, que grau de dificuldade tem o “artista” em escrever essa “música” Muriçoca? É na verdade a junção do mau gosto com a pornografia. Em comparação com uma canção como “Se eu não te amasse tanto assim”, de Herbert Vianna, por exemplo, A “Muriçoca” fica no rastro como se ninguém nunca a tivesse ouvido. É só um exemplo.

O que podemos dizer de uma música como “Adeus Maria Fulô”, de Sivuca. Linda! Interpretada pelas NORDESTINAS em seu mais recente trabalho, que retrata o amor de duas pessoas que se separam em função da seca, mas que esperam voltar tão logo volte à fartura. Um retrato de nosso povo sofrido do Nordeste. Realidade pura. No mínimo para refletirmos a respeito de como poderíamos mudar esta situação.

A indignação é geral. Nossa Maria Betânia, ícone da Música Popular Brasileira, aos 50 anos de carreira, concedeu uma entrevista e com muita propriedade e oportunidade, disse: “Estou com pena do meu Brasil. Saber da riqueza cultural musical do meu País, e hoje vejo gerações loucas que dançam aos zumbidos de “MURIÇOCAS e IMORALIDADES”. A adolescente está perdendo a sua essência de mulher, e a nova geração de falsos artistas está fazendo da NOSSA MÚSICA o lixo para a humanidade”.

Como diz um músico potiguar bastante competente: “A gente estuda harmonias das mais sofisticadas, arpejos, escalas, ritmos, acordes, clássicos, execução rápida que são precisos todos os dias… aí vem alguém e me diz as palavras mágicas: Você toca a música da muriçoca?”. É demais!

Zé Dias, nosso produtor cultural competentíssimo, disse em alto e bom som no Programa Ponto de Vista, do amigo Nelson Freire: “Na minha casa, ninguém ouve fuleragem”. Homem acostumado a ouvir o que é bom e apostar em quem tem talento, jamais iria render-se à músicas do tipo da muriçoca, do lepo-lepo e outros bichos. 

Fica o registro e o apelo para resgatarmos urgentemente na mídia o culto à boa música para que nossas crianças e adolescentes cresçam ouvindo àqueles que podem acrescentar cultura em suas vidas.

Eu faço a minha parte. E você?

Fernando Jorge – Contabilista e Cidadão.       

Uma resposta

  1. Caro senhor Fernando Jorge,
    um estudo realizado recentemente na Espanha com quinhentas mil músicas mostrou que a qualidade da música piorou nos últimos cinquenta anos no mundo. E infelizmente o Brasil seguiu essa tendência.
    Segue o link: http://oglobo.globo.com/sociedade/ciencia/pesquisa-cientifica-mostra-que-musica-piorou-nas-ultimas-decadas-6116078
    Mas meu comentário é sobre a citação que o senhor fez da cantora baiana Maria Bethânia: “Estou com pena do meu Brasil…”. Creio que o senhor não leu a entrevista que a cantora, que está comemorando meio século de carreira, deu ao jornal Folha de São Paulo e que foi publicada no dia 13 de fevereiro deste ano. A frase se refere a questões ambientais. Em momento algum ela faz críticas à situação da música brasileira com essas palavras que o senhor atribui a ela.
    Segue o link da entrevista: http://www1.folha.uol.com.br/ilustrada/2015/02/1589032-estou-com-pena-do-brasil-diz-bethania-aos-50-anos-de-carreira.shtml
    Outra coisa, não cabe à mídia dizer o que nossas crianças devem ouvir. Isso é papel dos pais que, através de exemplos, dão opções não só de música, mas também de livros, revistas, jornais, filmes etc. para os filhos. Porém, estes, como indivíduos, podem exercer seu direito de acatar ou não tais exemplos.
    Como o senhor, também me preocupo com o nível baixo das letras e também gostaria que todos ouvissem músicas de qualidade. Portanto, também faço a minha parte.

    ANAX RIBEIRO
    JORNALISTA e PROFESSOR

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