ESPEREI O PICOLÉ DE CAICÓ PASSAR –

Esperei sim. Por algumas semanas. Até que uma bela tarde eu tive a oportunidade de me encontrar com o condutor da carrocinha e confronta-lo. Ouvindo ao longe sua voz cavernosa, que enchia toda a rua, eu decidi e pensei comigo mesmo: chegou a hora de conversar com ele.

O volume do som da sua voz estridente aumentava a todo instante. Sinal que estava chegando perto de onde eu estava. Foi quando entrei no meu carro e sai lentamente em direção a ele. Parei ao seu lado e comecei a esperada conversa.

Logo que emparelhei com ele fui fazendo a minha observação, pela qual esperei tantos dias. “Amigo, você está fazendo o anúncio do seu produto de forma errada” – falei educadamente. Diga: “ vai passando o picolé caseirO” e não “ o picolé caseirO” e conclui: “Vai soar bem melhor”.

E expliquei o motivo. É que picolé é uma palavra masculina. E que portanto a palavra subsequente teria que ser também. Não se diz “A picolé” disse eu a ele. E sim “O picolé “Foi aí que ele olhando com desprezo pra mim, rispidamente respondeu: “quem vende o picolé sou eu e não você. Digo como tiver vontade”

Confesso que me surpreendi com a resposta. Pensei que ele iria até agradecer, mas aconteceu tudo ao contrário do esperado. Ele ficou com raiva do que eu disse e reagiu com uma voz de poucos amigos. Por isso, para não brigar por causa dum simples picolé, passei a primeira no carro e sai devagar, para não afronta-lo mais.

O final dessa história é mais do que previsível. Ele continuou a passar na minha rua anunciando errado o picolé no seu carrinho de venda. De propósito. Caprichando na repetição quando chega perto do meu prédio. E aumentando ainda mais o volume da sua voz metálica.

Por isso quando ele passa no início das tardes, eu fecho as portas da sala para não ouvir tão alto sua cavernosa voz, nem ferir os meus ouvidos. Pois todos os dias eu ainda escuto ele ao longe, vindo em direção a minha rua, dizendo: “ Vai passando o picolé CASEIRA Caicó!”

 

 

 

 

Nelson Freire – Jornalista, editor do Blog Ponto de Vista, Economista e Bacharel em Direito

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