adauto

Dizem que os princípios doutrinários de Maquiavel, transcritos em sua obra “O Príncipe”, ainda perduram nos dias de hoje. Os administradores, em especial, os da seara pública, usam esses princípios à exaustão. Eu não vou me ater a esse aspecto. Eu acho que em se tratando das cenas políticas brasileiras, aí incluídos os gestores, seus protagonistas, ultrapassaram o maquiavelismo e adotaram a disfarcatez como a prática comum.

Não há um dia em que não haja um escândalo, de pequena ou grande proporção, envolvendo a administração pública. E as respostas são as mais óbvias: eu não sabia, vamos formar uma comissão de sindicância para apurar os fatos, algumas defesas amarelas, algumas acusações esfarrapadas e o fato das pessoas nele envolvidos saírem de cena, por alguns dias, e voltarem em outra posição e, muitas vezes, com poderes maiores.

Os escândalos em destaque no momento adensam esse teatro de obviedades. Eu jamais entendi os critérios utilizados para o preenchimento de cargos públicos, mas, pelas conseqüências, dá para se imaginar. O que para o cidadão ou a sociedade deveria ser exceção, para o poder constituído é regra. A expressão “rês pública” é levada ao extremo e tudo o que é público passa, data vênia, a ser algo que pode (e deverá) ser saqueado e expoliado. A certeza da impunidade oferece o fundo de garantia para esses gestores que desviam o nosso erário.

Eu, particularmente, aceito mais o fato consumado do desvio de recursos públicos do que as caras e bocas dos envolvidos oferecendo a sociedade as mais desonestas explicações ao se sentirem ofendidos por terem de prestar esclarecimentos a quem de direito, não à justiça, que é cega, surda e manca, mas ao povo. A exclamação é um acinte nacional. Quem não convive com a possibilidade do mar de lama em que inocentemente surfamos, certamente não vive ou participa da vida nacional.

 Quem?

 Eu não sei de nada.

 E decoro dos cargos das autoridades?

 Surpresas, exclamações, opiniões cifradas, que apenas desgastam o combalido sentido da cidadania brasileira, tão bem aquinhoada nas propagandas governamentais, promessas de punição no rigor da lei, tudo encenação que constata que a política brasileira vive da pobreza e o máximo que ela merece é uma bolsa qualquer e o acesso ao tesouro é para uma minoria que desvia o que pode e não sabe que o fizeram.

Não houve desvio.

 Nunca!

 Nunca?

 Foram meras falhas procedimentais dos controle das sobras de campanha, doações anônimas, empréstimo de amigos, prêmios lotéricos etc. Alguém já ouviu essas explicações? E de procedimento em procedimento, de disfarcatez em disfarçatez, crescem as filas dos espoliadores da rês pública e dos assistidos pelos programas sociais, que são tantos e tão pequenos, que cabem numa bolsa.

 Calma!

Bem, eu vou ao supermercado. A patroa já está com a cara feia. Além das compras da semana, vou amarrar uma fita no dedo para lembrar a compra de um vidro de óleo de peroba. Quem sabe eu receba uma visita inesperada de uma dessas autoridades e tenha que lhe dispensar o tratamento merecido. Seguro morreu de velho, prevenido continua em algum cargo de confiança,,,,, em alguma repartição pública pelo Brasil a fora.

Fui!

 Adauto José de Carvalho Filho, AFRFB aposentado, Bacharel em Direito, Pedagogo, Contador, Escritor e Poeta

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