JOSUÁ COSTA

Carlos Alberto Josuá Costa

“Entrou pela perna de pato saiu pela perna de pinto, o rei mandou que contasse mais cinco.”

Fui criança ouvindo minha mãe contar histórias que embalavam meu sono, ao mesmo tempo em que despertava em mim a conquista pela experimentação do mundo da fantasia.

Reis, castelos, rainhas, princesas, príncipes, súditos, bobos, costumes, comportamentos, conquistas, sabedorias, astúcias, eram-me oferecida em forma de visões de épocas que não aquelas que estávamos vivendo. Histórias que elevavam o nosso espírito a uma condição de alegria e certamente de tranquilidade emocional, pois sempre o final “e foram felizes por toda a eternidade”, dava-nos uma segurança de que tudo estava correto quanto a nossa capacidade intelectual de compreender a moral da história.

Era realmente um “mundo encantado”!

Mais crescidinho, ainda dentro das limitações do mundo interior, outras histórias, essas mais arrepiantes e até picantes, foram aumentando o acervo mental, tendo Bocage como protagonista – pervertedor da ordem social e Camonge que desafiava o rei, e esse, a todo custo queria pegá-lo numa pequena falha para servir de pretexto para levá-lo à forca.

Já adulto, não sobraram histórias tão felizes enquanto produto da imaginação aventuresca humana. As narrativas passaram a ser erotizadas e ressaltando sempre ambientes e personagens envoltos em “sacanagem”. Já não tinha espaço para Branca de Neve, Rapunzel, A Bela Adormecida e Chapeuzinho Vermelho desfilarem suas inocências.

“Quem conta um conto aumenta um ponto”.

Atualmente tem até umas fofocas com o Príncipe Encantado, os Anãozinhos e o Lobo mau. Eu hem!   

Mas afinal é bom contar histórias para as crianças?

A atividade de contar histórias, além de ser um incentivo à imaginação promove a ampliação do repertório cultural e o do desenvolvimento cognitivo da criança.

Em contato com outras crianças, o conteúdo de cada história traz percepções diferentes e aos poucos vai aparando as possíveis divergências verbalizadas, porém mantendo cada uma a versão que ouviram de seus avós, pais e educadores infantis. Essa sociabilização abre oportunidade para desenvolver a linguagem, enriquecer o vocabulário, formando o caráter e a confiança no bem.

Elaborar a história juntamente com a criança, indagando, ouvindo sua opinião, adicionando elementos e fatos trazidos por elas, facilita o interesse em conhecer outras e outras histórias.

Devemos ter cuidado com as histórias já prontas, sem espaço para observarmos a capacidade imaginativa das crianças, dando a elas o gosto em maleabilizar o enredo conforme seus sentidos e sentimentos. O potencial crítico da criança em argumentar e questionar não devem ser desprezados em prol de uma história “fechada”.

Qualquer que seja a história contada imprima nela os aspectos morais e éticos que possam contribuir para a formação cidadã da criança.

As histórias que conto atualmente para Lucas são “inventadas” ou “remendadas” no instante de discorrê-las. Cada vez vou modificando a narrativa incluindo novas atitudes nos personagens, de tal maneira que sutilmente enalteço ou corrijo algum comportamento inadequado observado nele, naquele dia.

“Vovô conte a história do Menino das Chuteiras de Ouro”. Essa é uma delas:

Era uma vez um menino que morava num bairro pobre da cidade. Ele gostava de jogar bola num terreno próximo a sua casa. Ele jogava com um tênis usado, encontrado nas ruas. Ele era um bom filho, obediente a seus pais e professores. Todos os seus vizinhos gostavam dele por ser respeitoso com as outras crianças e com os idosos. Antes de brincar ele fazia as tarefas da escola e pedia ao seu vovô para contar historinhas para ele. Um dia, ele percebeu que tinha alguém assistindo a brincadeira. O homem perguntou quem eram seus pais e pediu para falar com eles. Explicou que era dono de uma escolinha de futebol e queria que o menino fosse treinar futebol e estudar numa escola melhor. Seus pais iriam trabalhar na escola para ajudar nas despesas de casa. O menino passou a treinar e estudar.  O menino ficava com vergonha porque suas chuteiras eram bem velhinhas e apertadas. Mas ele não reclamava e sempre estava alegre. Um dia ao acordar viu ao lado de sua cama um par de chuteiras novinhas. Elas brilhavam muito. Ninguém sabia como apareceram ali aquelas chuteiras de ouro. No dia da estreia do time do colégio ele fez três gols e quando voltou para casa abraçou seus pais e juntos rezaram agradecendo a “Papai do Céu”.

É ou não é uma história e tanto?!

Saindo um pouco das histórias infantis, quero conclamar os pais a contarem aos seus filhos adultos as estórias reais de suas vidas, relatando como foram suas infâncias,  como constituíram a família, as dificuldades enfrentadas, as vitórias conseguidas, a força da oração, a confiança no futuro, o cuidado com o agora.

Vocês filhos não deixem passar o tempo, apostando na imortalidade de seus pais. Sejam curiosas em conhecer suas experiências de vida. Estejam prontos para ouvi-los. Tenho certeza que tanto eles quanto vocês, compartilharão momentos de pura emoção. Suas histórias aproximarão a criança que você foi com o adulto que hoje não tem tempo para vagar por aventuras em “mil e uma noites”.

Às vezes sabemos tudo sobre supostos heróis fictícios ou mesmo reais, mas desconhecemos as histórias dos verdadeiros ídolos: nossos pais.

Dê a eles e a vocês a maravilhosa experiência em transformar ambientes tristes em algo cheio de amor, informação e alegria.

Motive-se a ser um “contador de histórias”.

Carlos Alberto Josuá Costa – Engenheiro Civil e Consultor ([email protected])

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *