DOMÍNIO DO MEDO –

Os brasileiros estão com medo. Ainda não é crônico, mas ameaça ser. Medo de sair à rua e de não estar seguro em casa; de perder o emprego ou de não poder pagar as contas; da aprovação imprescindível da Reforma da Previdência ou de que não seja aprovada. Pior, medo do futuro.

Em entrevista, Eduardo Galeano havia constatado: “O medo ameaça: se você ama terá aids; se fuma, terá câncer; se respira, terá contaminação; se bebe, terá acidentes; se come, terá colesterol; se fala, terá desemprego; se caminha, terá violência; se pensa, terá angustia; se duvida, terá loucura; se sente, terá solidão”.

O instinto de conservação é a causa primeira do medo. Por outro lado, ele fascina certas pessoas. O desafio da competição e a curiosidade são muito fortes. Lembremos os alpinistas, os pilotos da Fórmula 1, os paraquedistas, os amantes do rapel, os esportistas extremados.

No Brasil, o medo faz perder a nossa natural cordialidade e o mais precioso dos bens, a liberdade. É verdade que muita gente sabe disfarçá-lo com festas, celebrações, enfeites do dia a dia, até mesmo com um sorriso. Ele é também criador de máscaras.

Não se pode negar que o medo tem o seu lado bom. É o mais rigoroso conselheiro, professor, torna a pessoa capaz de se proteger de um perigo, com sadia sensação de alerta e afastamento do risco iminente.

Um garotinho de seis anos é levado pelos pais ao hospital. O pai, médico, explica que ele vai ser anestesiado para não sentir dor e extrair o caroço dos pés que lhe incomoda. Já próximo, a mãe o acalma dizendo que ele vai tomar um cheirinho, vai dormir e quando acordar estará bonzinho. Aberta a porta do carro, o menino pergunta: “Agora, mamãe, eu já posso entrar em pânico?”.

O medo é contagiante. Produz maldades. Vai da simples inquietação às revoltas sangrentas. André Maurois adverte que é o mais perigoso dos sentimentos coletivos. Os medrosos sentem-se bem em amedrontar os outros.

A sensação de temor comporta muitas palavras próximas e até sinônimos inesperados. Em meu Escritório, um dia, recebi o gordo e inteligente Romildo Gurgel. Convidou-me para integrar a sua equipe de advogados, dentre os quais Varela Barca e Fausto Medeiros. São 95 acusações, que “nem Lampião teve tantas”. Disse-lhe que tinha trabalhos urgentes, portanto não poderia. Ele me convenceu dizendo: “No regime militar todo mundo têm medo. Estão anotando a placa de quem chega perto do Tribunal de Contas. Sei que você não tem medo, tem prudência”.

Vencem o medo dois tipos de pessoas: os que não têm esperança e os heróis. O primeiro pelo desespero, os outros porque o dominam.

No mais belo poema de Jesus, “O Sermão da Montanha” (Mateus 6,34), está o ensinamento para superar os males do medo: “Não fiques preocupado com o dia de amanhã, pois o dia de amanhã terá suas próprias preocupações. Para cada dia bastam as suas próprias dificuldades”.

 

 

Diogenes da Cunha Lima – Advogado, Poeta e Presidente da Academia de Letras do RN

As opiniões contidas nos artigos são de responsabilidade dos colaboradores

Uma resposta

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *