DIÁRIOS –

Você ainda tem o seu Diário do passado?

Ainda?

Que legal!

E aqui pra nós, tem folheado e lido de vez em quando?

Que lembranças ele te traz?

Bem, primeiro vamos relembrar para os muitos mais jovens – filhos da era digital, que na minha adolescência, era comum escrever fatos do cotidiano, sentimentos, frustrações, conflitos familiares, expectativas para o futuro e relatos de paixões platônicas achadas e perdidas, em um caderno, geralmente de capa dura, como uma forma de confidenciar para nós mesmos esses acontecimentos.

Não preciso dizer que quase todos os infantes jovens, aspirantes a moças e rapazes adotavam esse hábito saudável e saudoso.

Não sei se alguns prosseguiam ao entrar na idade adulta, mas certamente a maioria ficava sem anotações no continuar da vida.

Escrever no diário era como escrever uma carta para você mesmo. Ao lê-lo, depois, não traria nem sobressalto, pois ali já estava explicitada qualquer surpresa que fizesse com que seu fôlego fosse “voltando” lentamente.

Tinha um detalhe: quase sempre, não sei como, esse “confidente” chegava às mãos de nossos pais, que mesmo respeitando cada momento nosso, alguma coisa ressurgia nas conversas e uma interrogação assumia a nossa consciência: “como ele ou ela soube disso?”

Às vezes a rotina, sem esse alvoroço de hoje, nada contribuía para escrever no diário “quase secreto”. Mesmo assim, ainda, para não perder o hábito, escrevia: “sem assunto”.

Se eu tenho o meu? Tenho. Mas, ainda preciso tecer alguns comentários antes de rebuscar em suas páginas alguns segredinhos que vocês estão doidinhos para saber.

Hoje tenho a convicção que escrever no diário funcionava como uma “autoterapia”, pois naquele momento de concentração, de desabafo, de falar (usando a pena) sem ser interrompido nos devaneios, certamente tinha uma função terapêutica fundamental.

Outra característica era a de que não importava o quanto éramos tímidos ou não, sempre o diário estava ali, pronto para “ouvir”.

O diário vai guardando um pouquinho de nós mesmos e permite avaliar os sentimentos e opiniões de uma época.

Lembram-se do famoso “Diário de Anne Frank”? Se aqueles fatos, hoje lembranças, não tivessem sido registrados, pouco se conheceria da visão que uma menina, naquelas condições, tinha da vida.

Bem, chegou a hora!

Abro o lacre do meu velho diário, e vejo que nele se entram anotações do ano 1969 e 1970.

Nele releio que minha maior preocupação era com o futuro e, para o qual precisava me preparar, dedicando-me aos estudos.

Destaco os acontecimentos como, A Conquista da Lua, o Milésimo Gol de Pelé e o Tricampeonato da Seleção Brasileira.

Cito os poemas que escrevi naquele ano rico em inspirações: O Reizinho, Felicidade, O Vagabundo e a Lâmpada, entre outros.

No rodapé, alguns pensamentos autorais como: “Amo o poema dos sons que há na vida; Amo o poema da vida que há nos sonhos”. E, “Se nossos olhos não distinguissem o colorido da natureza, quais seriam as cores dos campos floridos?”.

Comento a relação com os familiares, a convivência com os amigos, as conversas com meu pai, das peladas na praia e no Mangueirão (ali no Alecrim); de um namorico não correspondido até encontrar minha atual amada; da experiência de ensinar matemática no Externato Potiguar (do professor Nazareno); dos Carnavais brincados na ASSEN; dos amigos, até hoje, José Humberto Micussi, Dorian Ximenes e Omar Romero; e dos medos que me atormentavam, enfim.

Tá bom. Já revelei demais o meu passado. Ainda bem que ele não me condena. (Rsrs).

Agora vá procurar o seu diário e, com todo o respeito a um tempo mais “inocente” frente ao mundo atual, deleite-se, rindo ou chorando com suas lembranças de outrora.

Escreva também o seu “Diário”, mesmo a partir de hoje!

 

Carlos Alberto Josuá Costa – Engenheiro Civil e Consultor ([email protected])

As opiniões contidas nos artigos são de responsabilidade dos colaboradores

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