DIA DO CANHOTO –

O Dia do Canhoto passou e nem percebi – 13 de agosto. Aliás, eu nem sabia que tal dia existia. Da mesma forma que desconhecia datas comemorativas para goleiro, cantor, panificador, pedicuro ou ainda, da gratidão, da hospitalidade, da saudade, do trator, do cavalo e da banana – não encontrei o Dia do Banana.

Para se instituir determinada data comemorativa, o Congresso Nacional decreta e a Presidência da República sanciona. Aí pronto, está oficializado o dia. No aspecto de datas comemorativas, a banalização do processo legislativo brasileiro é algo risível, porquanto desenfreado e desnecessário.

 Criaram até um termo informal para caracterizar o absurdo: panlegiferação. Nelson Hungria, importante penalista brasileiro, escreveu: “O prurido legiferante no Brasil é coceira de urticária. Muda-se de lei como se muda de camisa”.

Mas, voltemos ao assunto central que é o Dia do Canhoto. Ser canhoto não é ato espontânea do indivíduo. Trata-se de característica genética que determina o predomínio motor da mão esquerda. Estudos científicos concluem que portadores deste gene estão mais susceptíveis a doenças como epilepsia e esquizofrenia, porém são mais rápidos no raciocínio.

Estima-se que de 13% da população mundial seja de canhotos. Entretanto, tal parcela de “defeituosos” não alterou ou sequer sensibilizou o universo dos destros. Sim, porque ser canhoto é sofrer com as aspirais do caderno, com o abridor de latas, com a régua, com a tesoura e com o violão.

O calcanhar de Aquiles do canhoto está no jeito de escrever. Lembro que quando se insinuou em mim a tendência para usar a mão esquerda levei muitas sovas de palmatória de minha mãe. Era reguada na escola e palmatória em casa. Da nada adiantou. Continuei com a forma estranha de pegar no lápis e com o estilo desengonçado de escrever borrando o texto escrito com a própria mão. E daí os comentários: “Nossa, você é canhoto?” ou “Olha gente, ele escreve torto!”.

Isso sem contar com a dificuldade de escrever sentado em carteiras para destros ou de, numa mesa de jantar, sentir-se um peixe fora d’água incomodando o comensal à sua esquerda. Resta-nos o consolo de sabermos que dentre os canhotos existe muita gente importante. Albert Einstein, Benjamin Franklin, Alexandre – o Grande, Charlie Chaplin, Bob Dylan e Ayrton Senna foram canhotos.

Também canhotos foram Adolf Hitler, Jack o Estripador e Osama Bin Laden. Isso sem falar nos vivos, que formam uma penca de gente de destaque em todas as atividades imagináveis.

Pois bem, passou o Dia do Canhoto e eu não o comemorei. Eu também esqueço comemorar os dias do leitor, do sogro, do avô, do pai, do ancião, do vizinho, do atleta amador, do irmão e até do engenheiro.

É admissível o cidadão não se preocupar em festejar tanta data comemorativa, mas, esquecer o dia do próprio aniversário é dose cavalar. Essa eu também esqueço. E justifico: sou bissexto. Um nascido em 29 de fevereiro.

No duro eu deveria comemorar aniversário de nascimento de quatro em quatro anos, porém eu não comemoro no dia 28 de fevereiro nem em 1º de março, tampouco no dia 29 de ano bissexto. Tal atitude deu margem a este diálogo em 2018:

Papai, parabéns pelo aniversário!” – desejou-me um dos filhos. E eu: “Por qual idade você me parabeniza, pelos 74 anos ou pelos 18,5?” – ironizei na resposta. Então ouvi: “Ah, é assim, é? Parabéns por estar vivo!”. E fechou-se a cortina.

 

 

 

 

 

José Narcelio Marques Sousa – engenheiro civil

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