DEU NA RÁDIO, SAIU NO JORNAL –

Nas minhas adolescência e juventude, o jornal e o rádio exerciam grande influência na população, por serem os veículos mais comuns e mais acessíveis. As tradicionais revistas semanais também gozavam de bastante credibilidade, embora nem todos tivessem condições de comprá-las.  Assim, o que fosse noticiado e comentado nesses veículos logo caía em todos os ouvidos como assuntos e fatos verídicos e passíveis de aceitação. Nas rádios, os famosos noticiários, aqueles que fizeram história, não precisavam de confirmações ou análises; divulgados e narrados por vozes potentes e celebradas, eram reconhecidos como reais e verdadeiros. Então, ninguém colocava em dúvida o que “deu na rádio”, ou “saiu no jornal”.

Hoje a divulgação de notícias obedece a critérios muito distantes do mero interesse de manter ouvintes e leitores informados. Em geral, têm a ver com a conveniência das ideologias das elites, cujo objetivo é manter o público sensível às mensagens e submissas aos poderes que controlam a sociedade, também, através dos meios de comunicação. Os anunciantes, os financiadores das mídias, também fazem valer seus interesses, enquanto dão suporte à doutrina dos grupos dominantes. Um desvirtuamento de objetivos que deveriam ser prevalentes – a prestação dos serviços de entretenimento e informação ao público – é, em última análise, o detentor dos direitos; canais de comunicação, serviços de transporte, saúde e educação, por exemplo, são concessões do serviço público e, por via de consequência, têm que estar a serviço do contribuinte.

É claro que nem tudo é manipulação. Em meio às atrações imbecilizantes e castradoras dos canais da televisão comercial, pode-se também encontrar matérias e programas edificantes, instrutivos e úteis. Estes, é fácil notar, são normalmente disponibilizados em canais e horários alternativos e muito pouco aparecem nas principais emissoras, mormente nos chamados horários nobres, que são os mais visados pelos grandes e importantes anunciantes. Uma programação de interesse cultural tem que ser garimpada em meio às indefectíveis novelas, aos programas de auditório ou às reportagens policiais, auto-assumidas como “utilidade pública” e que beiram a sordidez.

Desconfio de que isso seja estratégia da grande mídia que, ao sabotar o bom gosto nos canais comerciais, empurram o ouvinte inquieto para o consumo dos canais pagos, fechados, por assinatura, cada vez mais comuns e procurados por quem dispõe de recursos para contratá-los. É o mesmo artifício que inibe o poder público de oferecer melhor atendimento nos setores essenciais, forçando a procura pelos serviços das empresas privadas. A ganância capitalista é poderosa, prestigiosa e capaz de tudo.

Entre as atuais ferramentas de controle e influência social prevalecem, com assombrosa, incontestável e tolerada força, as chamadas redes sociais, um encantador veículo popularizado pelo acesso fácil de que todos podem desfrutar através dos soberanos smartphones, esses computadores portáteis transformados em órgão importante do corpo de dez entre dez pessoas no mundo. E tem sempre alguém conectado ao Facebook, ao Twiter, ao WhatsApp, ao Instagram e a quantos aplicativos sejam criados, delegando a essas ferramentas o controle da sua informação (ou formação), absorvendo e disseminando fatos, verdades ou inverdades como merecedores de crédito e aceitação.

No passado, é claro, nem toda notícia ou fato veiculado poderia, à primeira vista, ser aceito ou tomado por verdadeiro. Porém, havia interesse e disposição para se analisar e criticar uma publicação da mídia impressa ou da radiofonia, no tempo em que a Televisão não era popular. Um tema considerado mais relevante poderia ser comentado e debatido por dias e semanas, senão meses. Mas havia confiança bastante para se admitir que uma notícia seria verdade não porque “eu vi na Internet”, mas porque deu na rádio ou saiu no jornal.

 

 

 

 

 

 

Alberto da Hora – Escritor, músico, cantor e regente de corais

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