DESORDEM E DECADÊNCIA –

Não sei quantas vezes me ufanei pelo fato de ser brasileiro, de ter nascido em uma terra abençoada por Deus e bonita por natureza. Viajando pelas minhas lembranças, acho que a primeira vez foi em 1945, na Praça Mauá, no Rio de Janeiro, então a capital federal, quando assisti ao desembarque dos soldados brasileiros que tinham lutado na Europa contra o nazifascismo. Eu fui contagiado pelo entusiasmo das pessoas.

Outra vez, em 1950, foi no Colégio Santa Luzia, lá em Mossoró-RN, durante uma aula de ministrada pelo padre Cornelio Dankers – um holandês que foi parar nas frondes da caatinga nordestina. Após descrever o Brasil, sua geografia, seu povo e sua história, disse ele que nós tínhamos todos os motivos para termos orgulho de uma pátria tão maravilhosa. Falou ainda da nossa bandeira, que possui formas geométricas combinadas e belas, uma das poucas, se não a única, que tem um dístico filosófico, Ordem e Progresso, que se reportava ao Positivismo de Auguste Comte. Eu passei a sentir que éramos um país único.

Logo depois, ao ler “Brasil, país do futuro” – livro escrito nos anos 1940 pelo judeu-austríaco Stefan Zweig, um retrato do nosso país naquele tempo – convenci-me que um dia eu viveria em um país esplendoroso. Mas, o Padre Mota abriu meus olhos para a vida real: “Não se entusiasme demais, o otimista sempre se frustra; mas não perca a esperança, o pessimismo embota as boas iniciativas”; foi mais ou menos o que ele me disse.

De lá para cá tenho vivido numa espécie de montanha russa. Caí no fosso com o golpe militar, subi às nuvens com o movimento das diretas já, decepcionei-me com os planos de Sarney e de Collor, encantei-me com o Plano Real, até que o Lula subiu a rampa do Planalto. Embora não tenha votado nele, tive um momento de expectativa. Gostei quando Lula manteve a matriz econômica do governo FHC e mudei de opinião com os escândalos e com o sectarismo de alguns petistas históricos ou novatos. Voltei a ter alguma esperança quando meu ex-professor Guido Mantega foi nomeado ministro; afinal ele ERA um homem probo, honesto, honrado. Outro engano, outra decepção. O impeachment da presidente Dilma Rousseff, elevou (um pouco) meu ânimo. Do jeito que estava, qualquer coisa melhoraria o cenário do futuro.

Mas o Brasil parece que não tem jeito. Há pouco tempo estávamos no elevador que nos levaria a um futuro radioso, a economia estava bombando, a indústria estava produzindo perto de sua capacidade máxima, o comércio estava vendendo mais e mais, todos estavam comprando e os mais pobres estavam andando de avião, o nosso presidente “era o cara”… até que se revelou que tudo era artificial e veio a crise que levou quase quinze milhões de pessoas ao desemprego. Em paralelo, o serviço de saúde entrou em colapso, o ensino nacional é um dos piores do mundo e a segurança pública quase que não existe.

Mas era pouco e vieram dois tsunamis: as delações da Odebrecht e da JBS. Se juntarem as duas delações, talvez não escape nenhum político, talvez todos estejam nas mãos de empresas poderosas – “empresas campeãs” criadas pelos governos petistas, financiadas pelo BNDES e outras instituições públicas.

Nesse vai e vem, chegamos ao ano de 2018. De um lado, um poste de Lula; de outro um deputado do baixo clero e ex-tenente. Votar em quem? Tive que votar em Bolsonaro. Lamentavelmente, o que era o homem certo na hora certa, tem se mostrado um histrião boquirroto, adepto de pensamentos controversos, que governa para o seu “cercadinho” e não para o povo, que não se comove com a morte de centenas de milhares de brasileiros e posa de farofeiro.

Isso já bastaria para que os outros poderes procurassem por um pouco que seja, de juízo no homem. Mas os ocupantes de Parlamento estão muito ocupados em buscas de verbas, se possível secretas, evidenciando que o que lá há são frequentadores de balcão de negócio. Quem der mais leva votos e almas dos homens e mulheres que foram eleitos para defender o povo, mas que preferem se aboletar com recursos orçamentários. O STF tentou, mas, com o histórico de alguns ministros, viu seu telhado de vidro ser atingido pelas pedradas do Presidente e de seus apoiadores. Entramos em um ciclo de desordem e decadência. Mesmo assim, ainda acredito no meu país. Sou um otimista incurável, inveterado.

 

 

 

 

 

Tomislav R. Femenick – Mestre em economia, com extensão em história e sociologia

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