DESILUSÃO, QUEM ÉS TU? –

Lendo o artigo: “EM QUE ESTRADA NOS PERDEMOS?”, da querida confreira Vanda Jacinto, no https://portaldorn.com/em-que-estrada-nos-perdemos/, me vi a refletir sobre o ritmo sofrido do seu conto, que traz grande conflito interno do personagem, acarretando imensa carga de culpa acumulada por décadas.

O conto traz algumas perguntas como: “qual a sua parcela de culpa no processo? Teria ela também mudado? Teria sido a sua conivência durante esse tempo vivido? Os seus choros abafados? A falta de diálogos expondo o seu pensar?” Culpa que nem sempre é, de fato e de direito, de quem sente.

Penso que este é um sentimento oriundo desses acontecimentos bem próprio dos movimentos contrários, em que a culpa inversa surge a partir da imposição/indução do outro transferindo tal delito, livrando-se, aí sim, de suas verdadeiras responsabilidades.

De fato, a culpa pode ser apenas imaginária ou, tão pior quanto, ser induzida pelas rotinas externas de uma sociedade patriarcal, em que impera o machismo e controle psicológico/social sobre o outro (mulheres e crianças em sua maioria), o que se percebe na trama em questão, no desenrolar do diálogo em que abafa a fala da “verdade do outro”, restando apenas o choro.

As relações foram, são e sempre serão complicadas e cheias de decepções, o fato é que as desilusões são inevitáveis dada as mais diversas circunstâncias. A questão é que temos a tendência de criar grandes expectativas nos mais diversos tipos de relações, ao invés de construirmos perspectivas sobre a conjuntura dos fatos.

Em um tempo pretérito de minha vida, eu ouvi, por diversas vezes, a mesma frase, que dizia: “o expediente mais caro é o pensar pelo outro”. Ora, como se colocar no lugar do outro sem emitir pareceres dos atos e condutas do tal sujeito? Meio improvável, não é mesmo?

Incorreremos, na maioria das vezes, nos atropelos e desencontros de pensamentos e alinhamentos das posturas humanas. Nesse contexto, dar ao outro certas responsabilidades que não lhes cabem nos tornam vulneráveis, em contraponto e diferentemente nos casos em que temos a concretude de que fatos, ações, possibilidades, comportamentos humanos são extremamente voláteis, levando em consideração que cada um só dá aquilo que tem; com isso, penso eu, as desilusões devem diminuir consideravelmente.

Então, como evitar desilusões? Para ser fiel aos fatos e a realidade, não existe método, nem receita, nem a certeza da abolição da desilusão em nossas vidas. De uma forma ou de outra, estaremos fadados a algum tipo de desilusão; no entanto, tem algumas pontuações que podemos fazer para nos resguardar de tantos desapontamentos desnecessários.

Tentar perceber, através da nossa sensibilidade, comportamentos divergentes, desde os mais simples, seria uma dessas pontuações que supostamente nos ajudaria a ter algumas ressalvas, bem como a não nos entregarmos por completo, sem regras e medidas – como já fizemos em algum momento.

Pois bem, hoje eu sou inteira… APENAS PARA MIM!

Já com a vida, pessoas e coisas eu tenho me encarregado de colocar certas regras e medidas; isso, sem contar no suporte que os filtros dão, nos ajuda a descartar da vida coisas, pessoas e situações que não agregam valores. Aí, vou desviando das decepções, das desilusões e de ações humanas cruéis, que nos causam dores profundas e deixam cicatrizes na alma.

Infelizmente, não há como negar que há marcas na alma que se fazem mais que necessárias para nosso amadurecimento e resguardo pessoal, clareando nossa compreensão e entendimento, evitando desgastes futuros e desilusões. Afinal, só combatemos as desilusões sofrendo as primeiras desilusões.

 

 

 

 

 

Flávia Arruda – Pedagoga e escritora, autora do livro As esquinas da minha existência, [email protected]

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