DESCONHECIDOS E FAMOSOS –

Está aberta à temporada de caça ao voto. A cada dois anos, políticos de todas às matizes iniciam uma corrida na busca de convencerem seus eleitores a renovarem seus mandatos, ou mesmo a buscarem outro diploma eleitoral mais importante. São parlamentares com serviços prestados e outros nem tanto que, via de regra, dispõem de estrutura e fundo partidário para bancarem suas campanhas.

Ao lado desse contingente eclético, uma quantidade significativa de interessados em conseguir um lugar na vida política deste país começa a sair do anonimato, no sentido de disputar uma vaga para às eleições que se aproximam. Trata-se de um conjunto de indivíduos que vendo às facilidades (ou impunidades) obtidas pelos detentores de um diploma eletivo, procura uma solução para seus problemas pessoais, através de um mandato qualquer.

Não raro, uma parcela desses postulantes é constituída de excêntricos, esportistas, cantores populares, comunicadores, líderes comunitários, pais-de-santo e outras figuras do povo que se acham no direito de representar à população, só porque são conhecidos do público. Ledo engano. É bom lembrar que os excêntricos, talvez, constituam o segmento social mais preocupante, não só porque raciocinam que se já existem representantes do povo que beiram o ridículo (caso típico do Tiririca), e que um a mais ou outro a menos não faria diferença, mas, também, por encamparem projetos mirabolantes que terminam por influenciar o comportamento do eleitor mais desavisado, entre eles os analfabetos, ensejando o famoso “voto de protesto”.

Se por um lado, a evolução ocorrida no processo eleitoral – uso de urna eletrônica, proibição de “showmícios” e a recente intensificação das redes sociais como canal de comunicação – serviu para facilitar a escolha dos candidatos na hora da votação, por outro o refinamento do processo de seleção dos pretendentes, aptos a disputarem uma vaga, ainda não evoluiu o suficiente, sobretudo nas agremiações  “nanicas”.  Não seria demais reconhecer que a perspectiva de obtenção de um mandato eletivo fácil, também tem a haver com a inexigência de maiores qualificações para que um cidadão possa ser representante do povo (não há exigências mínimas), e mais ainda com a preocupação dos partidos em conseguir candidatos que tenham algum atributo para angariar votos, e/ou que disponham de recursos para adquirirem seus mandatos.

Não devemos esquecer que, dado às dimensões do Brasil, qualquer processo eleitoral custa caro aos cofres públicos, ou seja, ao bolso do contribuinte. Para termos uma ideia desse dispêndio, em 2006 o país investiu R$ 440 milhões nas eleições presidenciais para os 1.627 cargos disputados. Em 2008, foram alocados R$ 462 milhões nas eleições municipais (só no 1o turno) para as 57.542 vagas oferecidas. Em 2010, foram dispendidos R$ 480 milhões, em 2012 o país desembolsou R$ 483 milhões, ao passo que em 2016 foram investidos pela nação R$ 650 milhões para eleger seus prefeitos e vereadores.

 E o que levaria esses pretendentes a quererem se eleger de qualquer jeito, a qualquer custo? Num país onde o efeito demonstração faz escola, é provável que três fatos importantes estimulem o surgimento desses postulantes, a cada eleição. Primeiro, à ascensão de um sindicalista nordestino que conseguiu chegar ao posto de mandatário da nação. Segundo, a possibilidade do exercício de uma atividade de prestígio e com remuneração acima da média de muitas profissões que estão no mercado de trabalho. Terceiro, o registro de candidatos com processos judiciais ainda pendentes, desde que não transitado em julgado, o que poderia ensejar os benefícios do fórum privilegiado.

Neste contexto, emergem do futebol e do esporte amador o boleiro Igor Manassés e à atleta Maurren Maggi, com pretensões a deputado, além do baixinho Romário que pretende ser governador. Na cota dos cantantes surge o nome da funkeira Mc Carol, enquanto que Otávio Mesquita representa o segmento dos comunicadores. Na categoria dos socialites aparece o nome de Robert Rey, também conhecido como doutor Hollywood, que somado ao controverso ator-pornô Alexandre Frota dão o toque de excentricidade que permeia todas às eleições.

Essa pequena amostragem indica que estamos diante de pretensos candidatos em estados importantes e cidades urbanizadas do país onde, teoricamente, estariam os eleitores mais politizados. Todavia, o que dizer quando a essas subcelebridades se juntarem os pretendentes dos grotões, das áreas periféricas e dos currais eleitorais, onde o grau de conscientização ainda não alcançou o nível desejado? Não sei. Com a palavra, os marqueteiros!

 

Antoir Mendes SantosEconomista

 

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