AB DIOGENES DA CUNHA LIMA

Diógenes da Cunha Lima

“Quem ama o dinheiro jamais dele se farta”. Eclesiastes 5.10.

Não cobiçar as coisas alheias é ter a noção da suficiência.  É não ter obsessão pela posse de bens materiais.  A proibição mandamental vem antes da ação:  a cobiça está no pensamento ou nos sentimentos.  A lei de Deus proíbe a ganância, o chamado olho grande, o excessivo.

É certo que as desigualdades da sociedade  dividem as pessoas em livres e dependentes.  Muitos são excluídos dos benefícios sociais. Rousseau (1712-1778), antes de Karl Marx (1818-1883), apontou a propriedade como a origem das desigualdades.  O excluído comete pecado por cobiçar bens de que não dispõe, que lhe seriam necessários?.

Herança deveria ser uma coisa boa. E nem sempre é: divide famílias, filhos, irmãos, pais.  A cobiça começa com o ainda candidato a herdeiro.  A lei indica quem pode herdar.  A expectativa do direito aos bens gera cobiça.

Meu pai, brincando, apontava para um burro comendo grama e dizia ser o jumento mais inteligente do que o homem.  Por duas razões:  porque sabe o que é suficiente para ele e porque não tem memória.  O homem é infeliz porque sempre deseja mais do que lhe convêm, e recorda fatos desagradáveis.  O jumento balança o rabo, feliz, porque tem um pouco de capim para comer: o suficiente.  Não se lembra das pancadas que havia levado antes.

Diógenes, o filósofo grego, morava em um tonel.  Conduzia a sua “casa”, rolando.  Tinha muito pouco de seu.  Um dia, viu um menino em uma fonte bebendo água com o côncavo da mão.  Imediatamente quebrou o copo que possuía.  E justificou:  esse menino me ensinou que ainda tenho coisas inúteis…

O Eclesiástico ensina a não se fiar nas riquezas.  Os livros sagrados ensinam a sermos simples, a confortar o nosso coração com pequenas coisas.  Sinto-me feliz porque o meu nome indica, etmologicamente, que eu também sou filho de Deus.  O pior da cobiça é a ostentação e o luxo serem muitas vezes o seu objeto.  Há gente que não cobiça coisas de que carece, mas o supérfluo.

O poeta profissional Antônio Sobrinho versejou: “Nos diz a lei do Senhor / é preciso querer bem, / ter critério, ter vergonha / para ser feliz também. / Fazer tudo com respeito / sem cobiçar de ninguém.”  O pensamento é antigo  (século I d.C) e está no Manual do Epíteto Filosófico.  O autor era um frígio, escravo, que dava um conselho para auto-satisfação: “Se quiseres alcançar sempre o que pretendes, pretende o que podes.”

Quem cobiça quer tomar o alheio, tem desejo forte das coisas, tem ambição desmedida.  Há um mentiroso ditado popular brasileiro: “Cobiçar não é pecado.”   É sim.  Os dez mandamentos contêm seis proibições, seis pecados.  Três são crimes: matar, roubar e prestar falso testemunho.  Cometem estes crimes os homens sem anjos da guarda.  Três são transgressões morais:  pecar contra a castidade, desejar a mulher do próximo e cobiçar as coisas alheias.  Cometem estes pecados homens que têm anjos da guarda descuidados.

A lei só presta quando se confunde com a moral.  A lei de Deus é aplicável hoje, e por todo o tempo, porque é das alturas.  E  rigorosamente moral.

Diógenes da Cunha Lima – Escritor, Poeta e Presidente da Academia de Letras do RN

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